Dia Nacional do Controle de Infecções: o impacto das IRAS

Cris Collina
15/05/2024
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Neste artigo, a enfermeira da Oleak, Marielly Herrera, abordará o impacto das infecções hospitalares na saúde dos pacientes e nos custos do sistema de saúde

Dia Nacional do Controle de Infecções: o impacto das IRAS

No dia 15 de maio, o Brasil celebra o Dia Nacional do Controle de Infecções, uma data que destaca a importância de evitar e controlar infecções nos ambientes hospitalares. Essas infecções, que afetam milhares de pacientes todos os anos, não só representam um grave problema de saúde pública, uma vez que levam ao aumento do tempo de internação, um risco significativo para a saúde dos indivíduos, já que podem levar à morte, como também geram impactos econômicos consideráveis aos sistemas de saúde.

Segundo o Ministério da Saúde, estima-se que cerca de 14% dos pacientes hospitalizados adquirem infecções durante sua estadia nos hospitais brasileiros.

Segundo a Associação Médica Brasileira, mais de 45 mil brasileiros morrem anualmente devido a infecções hospitalares. Já a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que esse número pode chegar a até 100 mil por ano. 

De acordo com a OMS, um em cada dez pacientes afetados morre em decorrência da infecção hospitalar. Quando se trata de pacientes infectados por microrganismos multirresistentes, a mortalidade é pelo menos duas a três vezes maior.

Neste artigo, a enfermeira especializada em controle de infecções hospitalares da Oleak, Marielly Herrera, abordará o impacto das infecções hospitalares na saúde dos pacientes e nos custos do sistema de saúde, examinando suas consequências a longo prazo.

Infecções relacionadas à assistência à saúde: uma ameaça à saúde pública

Infecções hospitalares, também conhecidas como infecções nosocomiais, são as adquiridas durante a prestação de cuidados de saúde em ambientes hospitalares. Podem ser causadas por uma variedade de microrganismos resistentes, incluindo bactérias, vírus e fungos, e, geralmente ocorrem devido à exposição a superfícies contaminadas, procedimentos médicos invasivos ou práticas de higiene,  limpeza e desinfecção inadequadas ou ainda devido a negligência no processo de limpeza de superfícies.

De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que milhões de pacientes em todo o mundo sejam afetados por infecções hospitalares a cada ano. No Brasil, essas infecções representam uma preocupação significativa, com estudos indicando que elas afetam muitos pacientes hospitalizados anualmente.

Metas Internacionais de Segurança do Paciente

Produzido pelo CBA – Consórcio Brasileiro de Acreditação 

A certificadora americana, Joint Commission International (JCI), em parceria com a Organização Mundial da Saúde (OMS), instituíram as seis metas internacionais de segurança do paciente. São elas:

  • Identificar o paciente corretamente
  • Melhorar a eficácia da comunicação
  • Melhorar a segurança dos medicamentos de alta-vigilância
  • Assegurar cirurgias com local de intervenção correto, procedimento correto e paciente correto
  • Reduzir o risco de infecções associadas a cuidados de saúde
  • Reduzir o risco de danos ao paciente, decorrente de quedas

O objetivo dessas metas é promover melhorias específicas na segurança do paciente por meio de estratégias que abordam aspectos problemáticos na assistência à saúde, apresentando soluções baseadas em evidências para esses problemas.

Consequências para os pacientes afetados

As consequências das IRAS para os pacientes afetados podem ser graves e de longo prazo. Entre os impactos mais comuns estão:

Complicações de Saúde: As infecções hospitalares podem levar a complicações graves, como sepse (infecção generalizada), pneumonia, infecções do trato urinário e feridas cirúrgicas infectadas. Essas complicações prolongam a estadia hospitalar e aumentam o risco de morbidade e mortalidade.

A OMS ressalta que o impacto das infecções associadas à atenção à saúde e da resistência antimicrobiana na vida das pessoas é incalculável. Mais de 24% dos pacientes afetados por sepse associada à atenção à saúde e 52,3% dos pacientes tratados em uma unidade de terapia intensiva morrem a cada ano. 

Profissionais que prestam assistência de forma insegura, negligenciando as técnicas assépticas, a higiene das mãos e a higiene dos materiais utilizados, podem levar à contaminação de outras superfícies e pacientes. Dessa forma, os microrganismos adquiridos pelo paciente com IRAS podem colonizar outros pacientes, superfícies e até mesmo profissionais de saúde. Esse risco invisível de colonização pode comprometer a segurança e a saúde de todos no ambiente hospitalar.

Resistência a antibióticos: O uso excessivo e inadequado de antibióticos no tratamento de infecções hospitalares pode contribuir para o desenvolvimento de resistência antimicrobiana, tornando as infecções mais difíceis de tratar e potencialmente letais. As mortes aumentam de duas a três vezes quando as infecções são resistentes aos antimicrobianos.

Impacto Psicossocial: Os pacientes afetados por infecções hospitalares frequentemente enfrentam estresse emocional, ansiedade e depressão devido às complicações adicionais em sua recuperação e ao medo de contrair novas infecções.

Custos Financeiros: Além dos custos diretos associados ao tratamento das infecções, os pacientes e suas famílias podem enfrentar despesas adicionais relacionadas a cuidados de saúde prolongados, perda de renda devido a incapacidade temporária ou permanente e custos relacionados à reabilitação.

Impacto Econômico ao Sistema de Saúde

As IRAS não só levam ao aumento da morbidade e mortalidade, mas também impõem um encargo financeiro significativo ao sistema de saúde. 

Segundo o estudo Carga clínica e econômica das infecções associadas aos cuidados de saúde: um estudo de coorte prospectivo, publicado no PubliMed, em 23 de fevereiro de 2023, o custo anual direto estimado do tratamento de IRAS nos Estados Unidos varia de US$28,4 bilhões a US$45 bilhões, resultando em um pesado fardo para o sistema de saúde pública. Enquanto o impacto econômico anual na Europa chega a € 7 bilhões.

Segundo informações publicadas pela Anvisa, no Brasil estima-se que os custos de ocupação-dia total e médio por paciente com IRAS ou sem IRAS, conclui-se que o custo diário do paciente com IRAS é 55% superior ao de um paciente sem IRAS.

A implementação de estratégias abrangentes de controle de infecções baseadas em evidências poderia prevenir centenas de milhares de IRAS e salvar dezenas de milhares de vidas e bilhões de dólares. Estudos de vigilância sobre a taxa de infecção por IRAS e os custos para o sistema, devem ser realizados para conscientizar ainda mais em prol da prevenção e do controle das IRAS. A disponibilidade de dados publicados sobre o peso clínico e econômico das IRAS aumenta a sensibilização entre os prestadores de cuidados de saúde e as autoridades.

Os custos das infecções hospitalares que representam um ônus econômico significativo para o sistema de saúde incluem:

Despesas Diretas: Os custos diretos associados ao tratamento de infecções hospitalares incluem despesas com medicamentos, procedimentos médicos adicionais, internações prolongadas e cuidados intensivos. Alguns pontos são:

  • Aumento do tempo de internação;
  • Aumento na demora para atendimento de outros pacientes;
  • Bloqueio de leitos;
  • Gastos adicionais com antimicrobianos, além de gastos com antimicrobianos mais potentes e mais caros;
  • Consultas;
  • Uso de Equipamentos/tecnologias;
  • Equipe (médicos, técnicos em enfermagem e técnicos administrativos);
  • Custo com curativos , coberturas especiais e quando necessário, Oxigenoterapia hiperbárica ou tratamento com curativo à vácuo;
  • Gasto com testes laboratoriais, culturas, radiografias e antibiogramas;
  • Custo de oportunidade de atender novos pacientes;
  • Processos Judiciais e indenizações financeiras.

Perda de Produtividade: Infecções hospitalares frequentemente resultam em tempo perdido no trabalho para pacientes e profissionais de saúde, reduzindo a produtividade e aumentando os custos indiretos associados à ausência do trabalho.

Custos de Prevenção e Controle: Os sistemas de saúde devem investir em medidas de prevenção e controle de infecções, como treinamento de pessoal, aquisição de equipamentos de proteção individual e implementação de práticas de higiene rigorosas. Esses investimentos adicionais aumentam os custos operacionais dos hospitais e sistemas de saúde.

Conclusão

Marielly reforça que o  Dia Nacional do Controle de Infecções é uma oportunidade importante para conscientizar sobre os riscos e impactos das infecções hospitalares na saúde dos pacientes e nos custos do sistema de saúde. É fundamental que os hospitais e profissionais de saúde adotem medidas eficazes de prevenção e controle de infecções para reduzir a incidência dessas infecções e proteger a saúde e o bem-estar dos pacientes. Além disso, políticas públicas e investimentos adicionais são necessários para enfrentar esse desafio de saúde pública e mitigar seu impacto econômico nos sistemas de saúde.

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