Limpeza em Serviços Oncológicos

Cris Collina
14/09/2023
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Neste dia 17 de Setembro, Dia Mundial da Segurança do Paciente, abordaremos a importância da limpeza dos Serviços Oncológicos.

Limpeza em Serviços Oncológicos

Cuidados Extras para Pacientes Vulneráveis

Neste dia 17 de Setembro, Dia Mundial da Segurança do Paciente, abordaremos um assunto muito importante, a limpeza dos Serviços Oncológicos e o seu impacto na segurança dos pacientes em tratamento.

A luta contra o câncer é uma jornada desafiadora, e os pacientes oncológicos frequentemente passam por tratamento intensivo que compromete significativamente seu sistema imunológico. Nesse contexto, a limpeza realizada nos serviços oncológicos adquire uma importância crítica, uma vez que a manutenção de um ambiente limpo e livre de agentes patogênicos se torna essencial para a segurança e o bem-estar dos pacientes.

Neste artigo, discutiremos os procedimentos de limpeza em clínicas oncológicas, levando em consideração a imunossupressão dos pacientes em tratamento, com base em estudos científicos relevantes.

O Cenário da Imunossupressão em Pacientes Oncológicos

Os pacientes oncológicos acabam sendo submetidos a tratamentos quimioterápicos, radioterápicos, além de cirurgias. Esses procedimentos geram um impacto significativo no sistema imunológico – a imunossupressão que é a diminuição da resposta imune ao uso de algumas medicações, como corticoides e agentes imunoterápicos (usados em doenças autoimunes) o que faz com que o sistema imunológico não consiga combater doenças. Esse é um efeito colateral comum dos tratamentos. Como resultado, os pacientes acabam se internando mais vezes, tornando a prevenção de doenças uma prioridade absoluta.

Um bom programa de prevenção de infecções é extremamente importante para reduzir os riscos de infecções adquiridas nos hospitais (IRAS) e fora destes. Medidas básicas como higiene das mãos, a elaboração e aplicação de protocolos de prevenção, a aplicação de medidas de isolamento do paciente (quando indicado), o gerenciamento do uso de antimicrobianos, bem como os protocolos de limpeza e desinfecção de superfícies. 

Como aponta a Rede Câncer do Instituto Nacional do Câncer – INCA na cartilha Inimigos Invisíveis – existem algumas ações específicas para a assistência ao paciente oncológico, entre elas a profilaxia antimicrobiana em cirurgias (aplicação de meios para evitar doenças ou sua propagação) e normas e condutas terapêuticas específicas para as infecções.

Cuidados com os visitantes também é fundamental para preservar a saúde do paciente.

Procedimentos de Limpeza em Ambientes Oncológicos

Manter um ambiente limpo em uma clínica oncológica é essencial para reduzir o risco de mortalidade em pacientes. Os procedimentos de limpeza nesses ambientes devem ser cuidadosamente planejados e executados, levando em consideração a imunossupressão dos pacientes. Abaixo estão algumas diretrizes-chave:

1. Desinfecção Regular

Normalmente, os pacientes fazem tratamento ambulatorial visando a prevenção à hospitalização. Por isso, superfícies de alto toque, como maçanetas de portas, interruptores de luz, balcões e corrimãos, devem ser desinfetadas seguindo os protocolos aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa visando garantir a eliminação eficaz de microorganismos.

2. Utilização de Equipamento de Proteção Individual (EPI)

A equipe de limpeza deve usar EPI adequado, como luvas e aventais descartáveis, para evitar a contaminação cruzada que pode ocorrer de diversas maneiras, através do contato com um paciente infectado ou itens infectados e até por meio das mãos dos profissionais da saúde, que podem “carregar” bactérias. Isso é particularmente importante ao lidar com resíduos médicos e ao realizar procedimentos de limpeza em áreas de isolamento.

3. Utilização de Produtos de Limpeza Adequados

A escolha dos produtos de limpeza é crucial. Produtos com baixo teor de substâncias e produtos químicos irritantes devem ser preferidos para evitar reações alérgicas em pacientes imunossuprimidos. Além disso, os produtos de limpeza devem ser eficazes contra patógenos resistentes, como bactérias multirresistentes e vírus.

4. Ventilação Adequada

Uma ventilação adequada do ambiente é essencial para a circulação de ar fresco e remoção de partículas potencialmente contaminadas. A manutenção dos sistemas de ventilação e a troca regular de filtros são importantes para garantir a qualidade do ar em clínicas oncológicas.

5. Treinamento da Equipe de Limpeza

A equipe de limpeza deve ser devidamente treinada sobre a importância da adesão aos protocolos de limpeza da instituição, bem como, sobre as diretrizes de limpeza e higiene que inclui o conhecimento de técnicas adotadas e o descarte seguro de resíduos médicos.

Estudos Científicos que reforçam as Práticas de Limpeza em Ambientes Oncológicos

Para sustentar a importância das práticas de limpeza em ambientes oncológicos, é crucial examinar estudos científicos que destacam os riscos associados à falta de higiene adequada e os benefícios das medidas de limpeza cuidadosas. 

Selecionamos a seguir alguns estudos relevantes sobre o assunto:

O estudo Infecções relacionadas à assistência à saúde em pacientes imunossuprimidos devido ao tratamento quimioterápico, identificou que quase todos os microrganismos podem causar infecção em pacientes com câncer, incluindo microbiota colonizadora e normal. No entanto, Escherichia coli, Pseudomonas aeruginosa, Klebsiella spp., Staphylococcus spp. e Streptococcus spp. são os agentes mais relatados. O estudo concluiu que as infecções da corrente sanguínea causadas pelas bactérias e que apresentam maior resistência a vários antimicrobianos são a principal preocupação dos pacientes oncológicos. Ações preventivas e educativas devem ser realizadas por uma equipe multiprofissional, a fim de alcançar o melhor atendimento aos pacientes.

Em outro estudo, Atualização sobre práticas de controle de infecção em hospitais oncológicos  reforça que o tema controle de infecção tem desempenhado um papel vital no progresso dos tratamentos contra o câncer, permitindo que os pacientes sejam submetidos a novas terapias com segurança. A aplicação das recomendações atuais aos cuidados oncológicos e a outros ambientes de cuidados de saúde deve seguir os padrões locais de controle de  infecções; ser continuamente reavaliado; e requer uma equipa multidisciplinar, incluindo profissionais de controle de infecções como médicos, enfermeiros e administradores, bem como um espaço para os pacientes expressarem as suas preocupações. Um bom programa de controle e prevenção de infecções depende de uma comunicação atual e aberta dentro da instituição para garantir orientação constante sobre a evolução das práticas de controle de infecção, especialmente aquelas que cobrem as necessidades do paciente imunossuprimido.

 Aspectos importantes do controle e prevenção de infecções em pacientes que vivem com câncer.

Já o estudo A Qualidade do Ar em Ambientes Hospitalares Climatizados e sua Influência na Ocorrência De Infecções permitiu concluir que os padrões e normas para manutenção da qualidade do ar em ambientes hospitalares exigem cuidados importantes.

Os sistemas de ar-condicionado podem conter bactérias, vírus e fungos que são capazes de sobreviver em ambientes secos por longos períodos. Os principais microrganismos evidenciados como potencialmente causadores de infecção são: Legionella pneumophila, Bacillus sp, Flavobacterium sp, Pseudomonas aeruginosa, Staphylococcus aureus, Mycobacterium tuberculosis, Neisseria meningitidis, Streptococcus pneumoniae, Actinomyces sp, Paracoccidioides sp, Aspergillus sp, Penicillium sp, Cladosporium sp, Fusarium sp, vírus da influenza e sincicial respiratório. A bandeja do sistema de ar-condicionado é indicada como principal fonte de multiplicação microbiana, por formar biofilme e desencadear a cadeia de transmissão.

Relacionar os resultados destes estudos à prática diária, evidencia que ainda há um longo caminho para o controle das fontes de infecções hospitalares. Entretanto, sabe-se que de imediato medidas simples podem ser adotadas a partir da conscientização dos profissionais nestas unidades.

Conclusão

A limpeza em ambientes oncológicos é uma parte essencial do cuidado com pacientes que estão passando por tratamento. Adotar protocolos de limpeza por meio da escolha cuidadosa de produtos de limpeza; a utilização regular do uso de EPI; ventilação adequada e treinamento da equipe de limpeza desempenham um papel crucial na prevenção de doenças e no apoio ao processo de recuperação dos pacientes oncológicos. Além disso, estudos científicos comprovam a eficácia dessas práticas, fornecendo uma base sólida para a implementação de medidas de limpeza rigorosas em clínicas oncológicas. Garantir um ambiente limpo e seguro é fundamental para promover o bem-estar e a saúde dos pacientes que enfrentam o desafio do câncer.

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