Prevenção de infecções em instituições de cuidados de longa permanência 

Cris Collina
31/07/2024
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A prevenção de infecções em instituições de cuidados de longa permanência, é uma preocupação crucial. Esses locais prestam assistência a indivíduos vulneráveis, frequentemente idosos, com condições de saúde crônicas, que estão mais suscetíveis a infecções. Marielly Herrera, enfermeira especializada em prevenção de infecções da Oleak, salienta que atuar preventivamente no combate às infecções relacionadas à… Continuar lendo Prevenção de infecções em instituições de cuidados de longa permanência 

Prevenção de infecções em instituições de cuidados de longa permanência 

A prevenção de infecções em instituições de cuidados de longa permanência, é uma preocupação crucial. Esses locais prestam assistência a indivíduos vulneráveis, frequentemente idosos, com condições de saúde crônicas, que estão mais suscetíveis a infecções.

Marielly Herrera, enfermeira especializada em prevenção de infecções da Oleak, salienta que atuar preventivamente no combate às infecções relacionadas à assistência à saúde (IRAS) em instituições de cuidados prolongados é crucial por vários motivos, mas principalmente por atenderem pacientes que são frequentemente vulneráveis devido à idade, condições crônicas ou por estarem em recuperação de procedimentos cirúrgicos e doenças graves. 

A especialista salienta que as taxas de mortalidade são altas na população clinicamente complexa, como os idosos, com menos da metade dos adultos mais velhos sobrevivendo ao ano após a hospitalização, segundo um estudo Sobrevivência, função e cognição após hospitalização em hospitais de cuidados intensivos de longa duração publicado na Jama Network, em maio deste ano.

Nesta matéria, Marielly aborda também quais são as infecções mais comuns e as estratégias de prevenção da infecção nos pacientes idosos. Boa leitura!

Tipos de cuidados

As instituições de cuidados de longa permanência geralmente recebem pacientes que precisam de assistência  intermediária entre a alta hospitalar e o retorno à comunidade ou ao domicílio. Podemos relacionar:

  1. Pós-operatórios: Pacientes que passaram por cirurgias e precisam de monitoramento e reabilitação antes de serem liberados para casa. Como o Rosa Residencial Senior.
  2. Reabilitação: Pacientes que necessitam de fisioterapia, terapia ocupacional ou outras formas de reabilitação para recuperar a funcionalidade após um evento agudo, como um AVC ou fratura. Como a oferecida pelo Humana Magna.
  3. Pacientes crônicos ou em fase de descompensação: Indivíduos com condições crônicas que precisam de ajustes na medicação ou cuidados contínuos que não podem ser adequadamente fornecidos em casa, mas não necessitam de cuidados intensivos de um hospital agudo. Ou pacientes com doenças crônicas, como insuficiência cardíaca ou doença pulmonar obstrutiva crônica (PDOC), que tiveram uma piora súbita e necessitam de estabilização antes de voltar para casa. Um exemplo é o Royal Hospital com várias unidades pelo país.
  4. Cuidados paliativos: Pacientes com doenças graves ou terminais que precisam de controle de sintomas e suporte psicológico e social. Um exemplo é o Hospital Premier.
  5. Recuperação de doenças agudas: Pacientes que estão se recuperando de uma doença aguda, como pneumonia ou infecções graves, e ainda necessitam de cuidados médicos constantes. Como o Hospital São Francisco na Providência de Deus.
  6. Hospitais geriátricos: instituições especializadas no cuidado de idosos, oferecendo uma gama de serviços que atendem às necessidades específicas dessa população. Como o Hospital Geriátrico e de Convalescentes Dom Pedro II.

Essas instituições têm como objetivo oferecer um ambiente que possibilite uma transição segura e eficiente, com foco na recuperação e na preparação do paciente para o retorno ao seu ambiente habitual ou para um nível de cuidado menos intensivo.

Outra questão importante, é compreender as diferenças entre asilo, casa de repouso e hospital de retaguarda geriátrica para escolher o tipo de cuidado mais adequado para idosos, dependendo das necessidades específicas de saúde e bem-estar. Aqui está uma explicação de cada um desses termos:

  • Asilo: Foca em oferecer moradia e cuidados básicos para idosos que não podem viver sozinhos.
  • Casa de Repouso: Proporciona um ambiente de vida assistida com cuidados intermediários e suporte emocional para idosos que necessitam de assistência moderada.
  • Hospital de Retaguarda Geriátrica: Fornece cuidados médicos intensivos e reabilitação para idosos em recuperação de condições agudas, preparando-os para a transição para outros níveis de cuidado.

Entender essas diferenças ajuda a garantir que os idosos recebam o tipo de cuidado mais apropriado para suas necessidades específicas, promovendo uma melhor qualidade de vida e bem-estar.

Complicações infecciosas mais comuns

As infecções mais comuns entre residentes de casas de repouso e instituições de cuidados prolongados incluem:

· Gastroenterite: estudos mostram que surtos de gastroenterite são comuns em ambientes de cuidados prolongados, especialmente aqueles causados por norovírus. A prevalência pode variar, mas surtos podem afetar entre 5% a 20% dos residentes durante um evento. Norovírus foi responsável por 67% dos surtos de gastroenterite.

· Síndromes gripais: a gripe sazonal pode afetar 5% a 10% dos residentes anualmente, dependendo da eficácia da vacinação e das medidas de prevenção. Durante surtos sazonais, até 25% dos residentes podem ser afetados.

· Infecções respiratórias: pneumonia é a infecção respiratória mais comum em casas de repouso, com uma taxa de incidência que pode variar de 1 a 3 casos por 1000 residentes-dia. Outras infecções respiratórias incluem bronquite e exacerbações de doenças pulmonares crônicas.

· Infecções de pele e tecidos moles: celulite e úlceras de pressão são comuns, com uma prevalência de úlceras de pressão variando de 10% a 20% dos residentes em algumas instalações.

· Infecções do trato urinário (ITUs): são extremamente comuns, com uma incidência que pode variar de 0,5 a 2 episódios por residente-ano. As associadas ao uso de cateteres são um problema significativo.

Estudos e relatórios de Vigilância Sanitária indicam que a prevalência e a incidência de infecções em casas de repouso e instituições de cuidados prolongados podem variar amplamente devido a vários fatores, incluindo localização geográfica, políticas de controle de infecção e a saúde geral dos residentes. 

Mensurar e notificar IRAS é uma prática bem estabelecida em hospitais, onde sistemas de vigilância e notificação são obrigatórios e rigorosamente implementados. Em contrapartida, a subnotificação tende a ser mais comum em casas de repouso e asilos devido a limitações de recursos e fiscalização. 

Estratégias de Controle de Infecções

Estratégias eficazes de controle de transmissão de infecções relacionadas à assistência à saúde IRAS são essenciais para garantir a segurança e a saúde desses residentes.

Higienização das Mãos

A higienização adequada das mãos é a medida mais simples e eficaz para prevenir a disseminação de infecções. Profissionais de saúde, cuidadores e visitantes devem lavar as mãos regularmente com água e sabão ou usar álcool em gel. Estudos mostram que a implementação de programas rigorosos de higienização das mãos pode reduzir as infecções hospitalares em até 50%.

Vacinação

A vacinação é uma estratégia preventiva fundamental. Médicos, funcionários e os pacientes residentes devem estar atualizados com todas as vacinas recomendadas, incluindo a vacina contra a gripe e a vacina pneumocócica. A vacinação reduz significativamente a incidência de infecções respiratórias, que são comuns em ambientes de cuidados prolongados.

Isolamento e Quarentena

Para controlar surtos de infecções, é crucial isolar os casos suspeitos e os infectados e implementar medidas de quarentena. Essas práticas evitam a disseminação de doenças contagiosas para outros residentes e funcionários. Protocolos claros de isolamento e quarentena devem ser estabelecidos e seguidos rigorosamente.

Limpeza e Desinfecção

A limpeza e desinfecção regulares das instalações são essenciais para prevenir infecções. Superfícies de alto contato, como maçanetas, corrimãos e interruptores de luz, entre outros, devem ser desinfetadas com frequência. Produtos de limpeza eficazes contra patógenos comuns, contra microrganismos como bactérias, vírus e fungos, devem ser utilizados, como a linha Optigerm Pronto-uso e Optigerm Oxikill, ambos da Oleak.

Educação e Treinamento

A educação contínua dos funcionários sobre práticas de controle de infecções é vital. Treinamentos regulares garantem que todos estejam atualizados sobre as melhores práticas e saibam como responder adequadamente a surtos de infecções. A conscientização sobre a importância da prevenção de infecções deve ser constante.

Monitoramento e Vigilância

O monitoramento contínuo da saúde dos pacientes e a vigilância epidemiológica permitem a detecção precoce de surtos de infecções. Sistemas de monitoramento devem ser implementados para rastrear casos de infecções e identificar padrões que possam indicar um surto. Dados coletados devem ser analisados regularmente para informar ações preventivas.

A intensificação do uso de antisséptico alcoólico é amplamente reconhecida como o padrão ouro nos programas de prevenção de infecção devido à sua eficácia, praticidade e menor impacto na seleção de flora resistente. Embora o uso de sabonetes contendo antissépticos possa ser necessário em algumas situações, é importante considerar o risco potencial de alteração no perfil de sensibilidade dos microrganismos. A adoção de práticas baseadas em evidências, juntamente com a monitorização contínua e a educação dos profissionais de saúde, é fundamental para a prevenção eficaz de infecções em casas de repouso e hospitais de retaguarda, reforça a especialista.

Importância de protocolos de prevenção e controle de infecções

A importância do controle de infecções em ambientes de cuidados de longa permanência não pode ser subestimada. Infecções em tais ambientes podem levar a complicações graves e aumentar a mortalidade entre os pacientes/residentes. Dados de pesquisa destacam a necessidade de medidas rigorosas de prevenção.

O estudo, “Reducing Hospitalizations and Multidrug-Resistant Organisms (MDROs) via Regional Decolonization in Hospitals and Nursing Homes,” publicado na edição online de 1º de abril de 2024 do Journal of the American Medical Association, descobriu que o método de limpeza reduziu as infecções por microrganismos multirresistentes em todo o condado em até 30% e reduziu as hospitalizações devido à infecção entre os residentes de casas de repouso em 27%. A queda nas hospitalizações também reduziu as mortes associadas em 24%.

Um outro estudo Infecções relacionadas à assistência à saúde em casas de repouso: Um estudo qualitativo de práticas de cuidado com base em uma abordagem sistêmica, publicado no Sage Journals, cujo objetivo é a análise de problemas de prestação de cuidados e fatores contribuintes de infecções relacionadas à assistência médica em uma amostra em casa de repouso . Este estudo pode ajudar a identificar aspectos organizacionais, tecnológicos e comportamentais, para implementar ações de melhoria e reduzir o impacto de infecções em cuidados de longo prazo. Aponta como questões importantes: os edifícios geralmente não são adequados para espaços confinados, ventilação de ambientes, luz natural e resposta rápida a emergências. A higienização das mãos não é suficiente, o uso de antibióticos geralmente não é adequado. O microclima geralmente não é adequado, os procedimentos de higiene nem sempre são impecáveis. Os membros da equipe são em pequeno número.

Conclusão

A enfermeira Marielly Herrera reforça que a prevenção de infecções em ambientes de cuidados de longa permanência no cuidado com idosos é um desafio contínuo, mas crucial. A implementação de estratégias eficazes de controle de infecções, como higienização das mãos, vacinação, isolamento, limpeza, educação e monitoramento, pode salvar vidas e melhorar a qualidade de vida dos residentes. Dados de pesquisa reforçam a importância dessas medidas, destacando a necessidade de um compromisso constante com a prevenção de infecções.

A saúde e a segurança dos residentes dependem da eficácia dessas estratégias. Portanto, é imperativo que asilos, casas de repouso e instituições de cuidados prolongados com idosos adotem práticas rigorosas de controle de infecções e protocolos assistenciais para proteger os mais vulneráveis e garantir um ambiente seguro e saudável.

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