Sarampo

Sarampo no mundo: riscos para o Brasil e a importância da vacinação

O aumento dos casos de sarampo pelo mundo representa um alerta para o Brasil, saiba mais sobre esse assunto nesta matéria e como se prevenir

Cris Collina
26/03/2025
7 minutos de leitura

O sarampo, uma doença viral altamente contagiosa, voltou a ser uma preocupação global devido ao aumento de casos em diversas partes do mundo. 

Considerando os casos e surtos de sarampo na Europa e América do Norte, sobretudo nos Estados Unidos, e Argentina, na América do Sul, o risco de reintrodução do vírus no Brasil aumenta pelo fluxo de viajantes (brasileiros e estrangeiros) e pela presença de indivíduos não vacinados

Esse cenário levanta um alerta para o Brasil, que recentemente, em novembro de 2024, recuperou o certificado de eliminação do sarampo pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), após cinco anos sem transmissão sustentada.

Neste artigo, Regiane Gonzalez, enfermeira e gerente comercial da Oleak na Divisão de Prevenção de Infecções Relacionadas à Saúde, aborda o que é o sarampo, sinais, sintomas e formas de prevenção. Boa leitura!

O que é o Sarampo?

O sarampo é uma doença infecciosa causada pelo vírus Measles morbillivirus, pertencente à família Paramyxoviridae. Altamente contagioso, ele é transmitido por gotículas respiratórias expelidas ao tossir, espirrar ou até mesmo falar. O vírus pode permanecer no ar e em superfícies por várias horas, o que facilita sua disseminação.

A infecção compromete o sistema imunológico e pode levar a complicações graves, especialmente em crianças menores de cinco anos, gestantes e pessoas com imunidade debilitada. Entre as complicações mais severas estão pneumonia, encefalite e, em casos raros, a panencefalite esclerosante subaguda (PEES), uma doença neurológica progressiva e fatal.

Sinais e Sintomas do Sarampo

O sarampo é transmitido de pessoa a pessoa, por meio das secreções nasofaríngeas expelidas pelo doente ao tossir, respirar, falar ou espirrar. O período de incubação é de 7 a 21 dias. O vírus pode ser transmitido cerca de seis dias antes até quatro dias após a erupção cutânea. 

Os sinais mais comuns incluem:

  • Febre alta (acima de 38,5°C);
  • Tosse seca e persistente;
  • Coriza intensa;
  • Conjuntivite (olhos vermelhos e lacrimejantes);
  • Manchas brancas dentro da boca (sinal de Koplik);
  • Erupção cutânea avermelhada, que começa no rosto e se espalha pelo corpo.

A fase de maior contágio ocorre nos quatro dias anteriores ao aparecimento das manchas vermelhas e se estende até quatro dias após o início da erupção. A única forma eficaz de prevenir a doença é por meio da vacinação.

Figura 1: O que é, sinais e sintomas do Sarampo

Situação atual do Sarampo no mundo

A região da União Europeia relata, em 2024, o maior número de casos de sarampo em mais de 25 anos, sendo 40% deles em crianças menores de 5 anos. Em 2025, até fevereiro, foram mais de 1.000 casos confirmados e 19 óbitos.

No continente africano, em 2025, 3.795 casos foram relatados além de 93 óbitos de sarampo em múltiplos países. Dos países que possuem casos confirmados, Marrocos, Senegal, Uganda e Senegal realizam voos diretos ao Brasil via Aeroporto Internacional de Guarulhos/SP.

Nas Américas, em 2025, o número de casos na semana epidemiológica (SE) 10, quando 611 casos foram registrados, é o dobro dos 308 casos ocorridos na SE 08 (4,5). Até o momento, foram confirmados 301 casos de sarampo nos Estados Unidos, sendo dois óbitos; 278 casos no Canadá, 22 casos no México e onze casos na Argentina.

Crescimento nos Estados Unidos

De acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC), o surto de sarampo nos EUA é impulsionado pela queda nas taxas de vacinação. Movimentos antivacina, desinformação e falta de acesso a serviços de saúde contribuíram para o aumento dos casos.

O Texas é o estado mais afetado, seguido por Nova York, Califórnia e Flórida, com transmissão comunitária ativa.

Um estudo publicado na revista The Lancet Infectious Diseases “Measles in Texas: waning vaccination and a stark warning for public health” (Sarampo no Texas: vacinação minguante e um alerta severo para a saúde pública), aponta que a hesitação vacinal é um dos principais fatores para o ressurgimento da doença em países desenvolvidos. A pesquisa destaca que regiões com taxas de imunização abaixo de 90% tendem a ter surtos recorrentes, reforçando a necessidade de campanhas educativas e estratégias para aumentar a cobertura vacinal.

Brasil e o risco de reintrodução do sarampo

Em 2025, por enquanto, há cinco casos em investigação e oito notificações foram descartadas. O Ministério da Saúde, por meio da CGVDI/DPNI, até 18 de março de 2025, comunicou que recebeu a notificação de quatro (4) casos confirmados de sarampo no Brasil, sendo três (3) residentes nas Unidades Federadas do Rio de Janeiro (RJ) e um (1) no Distrito Federal.

As amostras foram analisadas pelo Laboratório Central de Saúde Pública Noel Nutels (Lacen-RJ) e pela Fiocruz. Os casos envolvem duas crianças da mesma família, que receberam atendimento médico e passam bem. Acerca do caso confirmado de sarampo de Itaboraí/RJ, trata-se de uma criança de seis anos, sexo masculino, com histórico de duas doses da vacina tríplice viral, não houve a necessidade de internação.

Sobre o caso confirmado do Distrito Federal, trata-se de uma mulher de 35 anos, residente em Águas Claras/Brasília. Entre 02 e 27 de fevereiro de 2025, viajou por diversos países, incluindo Estados Unidos, Singapura, Filipinas e Austrália, retornando ao Brasil desembarcando em Brasília. Possui histórico vacinal com três doses da monovalente e duas da tríplice viral.  Apresentou sintomas em 27 de fevereiro de 2025 e exantema em 01 de março de 2025, sendo atendida em hospital privado, onde foi orientada a permanecer em isolamento até 06 de março.

De acordo com critérios internacionais, os casos não interferem no status do Brasil como país livre da circulação do vírus do sarampo, da rubéola e da Síndrome da Rubéola Congênita.

Regiane salienta que essa conquista pode estar ameaçada pelo fluxo de viajantes entre os EUA, Europa e o Brasil, por isso a prevenção com a vacinação, continua sendo a melhor alternativa para o combate ao sarampo.

Principais riscos para o Brasil:

  1. Entrada de brasileiros que residiam nos países com ocorrência: Muitos brasileiros estão retornando ao país, e aqueles que viveram em áreas com surtos ativos podem trazer o vírus para o Brasil caso não estejam imunizados.
  2. Turismo internacional: O Brasil recebe milhões de turistas anualmente, e a chegada de visitantes de países afetados pode facilitar a disseminação do sarampo.
  3. Baixa adesão à vacinação: Embora o Brasil tenha recuperado o certificado de eliminação, a cobertura vacinal ainda não atingiu níveis ideais em algumas regiões, o que pode favorecer a reintrodução do vírus.

Estratégias para prevenir a reintrodução do sarampo no Brasil

Para mitigar os riscos, especialistas e organizações de saúde recomendam medidas preventivas fundamentais:

  1. Aumento da cobertura vacinal: O Ministério da Saúde registrou aumento expressivo no número de municípios acima da meta de 95% de imunização para vacinas essenciais do calendário infantil. É o caso da vacina tríplice viral, que previne o sarampo, a caxumba e a rubéola. A meta para a segunda dose desse imunizante foi alcançada em 2.408 municípios brasileiros, um aumento de mais de 180% quando comparado com os 855 municípios em 2022. A cobertura da primeira dose de tríplice viral também foi registrada em mais regiões: 3.870 cidades em 2024, frente às 2.485 de 2022, ou seja, 55,7% de crescimento. 

Esquema de Vacinação

·       De 1 a 29 anos – duas doses, sendo a primeira com a tríplice viral aos 12 meses e a segunda aos 15 meses com a tetraviral ou tríplice viral + varicela;

·       De 30 a 59 anos – uma dose da vacina tríplice viral, se não vacinado anteriormente;

·       Trabalhadores da saúde – duas doses da vacina tríplice viral independentemente da idade. Com intervalo de 30 dias entre as doses.

A vacina tríplice viral é contraindicada durante a gestação. As gestantes não vacinadas ou com esquema incompleto deverão receber a vacina no puerpério.

  1. Vigilância epidemiológica ativa: Monitorar casos suspeitos e realizar bloqueios vacinais imediatos são estratégias essenciais para impedir a disseminação do vírus.
  2. Controle sanitário em aeroportos e fronteiras: A recomendação para viajantes inclui a exigência de comprovante de vacinação para entrada no país e orientações para aqueles que apresentarem sintomas da doença.
  3. Campanhas de conscientização: Informar a população sobre a importância da vacinação e combater a desinformação são passos essenciais para garantir que a adesão ao imunizante aumente.
  4. Parcerias internacionais: O Brasil pode reforçar a cooperação com a OPAS e a OMS para monitorar a evolução da doença globalmente e adaptar suas estratégias conforme necessário.

Estudos científicos sobre sarampo e vacinação

Diversos estudos científicos reforçam a importância da vacinação contra o sarampo e os impactos da queda na cobertura vacinal:

  • Impacto da vacinação em massa (Journal of Infectious Diseases): Este estudo demonstrou que a erradicação do sarampo é possível quando a cobertura vacinal ultrapassa 95%, reduzindo drasticamente a transmissão do vírus.
  • Reintrodução do sarampo em países que haviam eliminado a doença (New England Journal of Medicine): O estudo analisou surtos em países europeus e mostrou que mesmo pequenas quedas na cobertura vacinal podem levar à reintrodução do vírus.

A Europa enfrenta o maior número de casos de sarampo em mais de 25 anos. O diretor regional da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a região europeia, Dr. Hans Kluge, decretou que “O sarampo está de volta e é um alerta“.

Um total de 127.350 casos foram relatados na região em 2024, o dobro do número de casos relatados em 2023 e o maior número desde 1997, de acordo com análise da OMS e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF).

Medidas simples e importantes que auxiliam na prevenção das doenças de transmissão respiratória 

➢ Cobrir nariz e boca quando espirrar ou tossir.

Higienizar as mãos com frequência com água e sabão, ou então utilizar álcool em gel. 

➢ Não compartilhar copos, talheres e alimentos. 

➢ Procurar não levar as mãos à boca ou aos olhos. 

➢ Sempre que possível evitar aglomerações ou locais pouco arejados. 

➢ Manter os ambientes frequentados sempre limpos e ventilados. 

➢ Evitar contato próximo com pessoas doentes. 

Atenção: Orientar a população que ao apresentar febre e exantema, evitar o contato com outras pessoas até ser avaliado por um profissional da saúde e procurar imediatamente serviço médico.

O aumento dos casos de sarampo pelo mundo representa um alerta para o Brasil. Apesar do país ter recuperado o certificado de eliminação da doença, o fluxo de viajantes e a hesitação vacinal ainda são desafios a serem enfrentados. Para evitar a reintrodução do vírus, é essencial reforçar a vacinação, intensificar a vigilância epidemiológica e conscientizar a população sobre os riscos da doença e a importância da imunização.

A experiência de outros países demonstra que surtos de sarampo podem ocorrer rapidamente em populações não vacinadas. Por isso, o Brasil deve adotar medidas preventivas rigorosas para proteger a saúde pública e manter o país livre dessa doença altamente contagiosa.

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