Mudanças Climáticas e Saúde

Mudanças Climáticas e Saúde: os impactos do aquecimento global na população

Descubra como as mudanças climáticas afetam a saúde pública, impulsionam a proliferação de microrganismos perigosos e aumentam riscos cardiovasculares e respiratórios. Saiba como reduzir a emissão de carbono e mitigar esses impactos.

Cris Collina
17/03/2025
5 minutos de leitura

As mudanças climáticas representam uma das maiores ameaças à saúde humana no século XXI. Com o aumento da temperatura global, diversos setores da sociedade são afetados, sendo a saúde pública um dos mais críticos.

O aquecimento global não apenas altera os ecossistemas, mas também cria condições propícias para o surgimento e a propagação de doenças, além de agravar problemas de saúde já existentes.

Neste artigo, Marielly Herrera, enfermeira especializada em controle de infecções hospitalares da Oleak, aborda quais são as principais doenças que podem impactar a saúde humana em virtude das questões climáticas. Boa leitura!

Como reduzir a emissão de carbono?

Antes de abordarmos os impactos das mudanças climáticas na saúde, é importante destacar como cada indivíduo pode contribuir para a redução da emissão de carbono e mitigar esses efeitos negativos. Pequenas mudanças no dia a dia, como reduzir o consumo de carne vermelha e produtos ultraprocessados, ajudam a diminuir a poluição ambiental. Outras ações incluem optar por transportes sustentáveis, economizar energia e reduzir o desperdício de recursos naturais. A conscientização e a adoção dessas práticas são essenciais para enfrentar os desafios climáticos.

Quadro: Ações para Reduzir a Emissão de Carbono

AçãoBenefício
Reduzir o consumo de carne vermelhaMenor emissão de gases de efeito estufa
Preferir alimentos locais e sazonaisRedução do impacto ambiental do transporte
Optar por transporte público, bicicleta ou caminhadaMenos poluição do ar e emissões de CO₂
Economizar energia elétricaMenor demanda por combustíveis fósseis
Reduzir o consumo de plástico e embalagens descartáveisMenos resíduos e menor impacto ambiental
Reaproveitar e reciclar materiaisEconomia de recursos naturais
Apoiar políticas sustentáveis e empresas responsáveisEstímulo à adoção de práticas ecológicas

Impactos diretos e indiretos na saúde

Na figura abaixo relacionamos os fatores de vulnerabilidade, problemas relacionados ao clima, exposição e o resultado para a saúde e para o sistema de saúde.

Figura 1

Fonte: Who

Figura: Uma visão geral dos riscos à saúde sensíveis ao clima, suas vias de exposição e fatores de vulnerabilidade. As mudanças climáticas afetam a saúde direta e indiretamente e são fortemente mediadas por determinantes ambientais, sociais e de saúde pública.

Os efeitos das mudanças climáticas na saúde são multifacetados. Eles podem ser diretos, como os causados por eventos climáticos extremos, ou indiretos, resultantes da alteração na qualidade do ar, da água e dos alimentos.

A elevação da temperatura global pode levar a uma maior incidência de ondas de calor, associadas a doenças cardiovasculares e respiratórias, além de aumentar o risco de desidratação e insolação.

De acordo com o Relatório Especial COP26 sobre Mudanças Climáticas e Saúde da agência de saúde da ONU – Organização das Nações Unidas, ações transformadoras em setores como energia, transporte, natureza, sistemas alimentares e financiamento são necessárias para proteger a saúde das pessoas.

Segundo Tedros Adhanom Ghebreyesus, Diretor Geral da Organização Mundial da Saúde – OMS, “A pandemia da COVID-19 nos revelou as ligações íntimas e delicadas entre humanos, animais e nosso meio ambiente”. Ainda segundo o diretor “As mesmas escolhas insustentáveis que estão matando nosso planeta estão matando pessoas”.

Impactos em Números

– A mudança climática influencia os determinantes sociais e ambientais da saúde, como ar limpo, água potável, comida suficiente e moradia segura.
– Entre 2030 e 2050, espera-se que a mudança climática cause 250.000 mortes adicionais por ano devido a desnutrição, malária, diarreia e estresse por calor.
– O custo dos danos diretos à saúde pode variar entre 2 e 4 bilhões de dólares até 2030.
– Áreas com infraestruturas sanitárias pobres, principalmente em países em desenvolvimento, serão as menos capazes de se preparar e responder a essas mudanças sem ajuda externa.
– Reduzir as emissões de gases de efeito estufa pode resultar em melhorias na saúde, especialmente através da redução da poluição atmosférica.

Doenças relacionadas ao clima

Altas temperaturas aumentam os níveis de ozônio e outros poluentes do ar, agravando doenças cardiovasculares e respiratórias. O aumento dos níveis de pólen e outros alérgenos em condições de calor extremo pode exacerbar a asma que afeta cerca de 300 milhões de pessoas e as alergias.

O aumento das chuvas e enchentes também contribui para a disseminação de doenças de veiculação hídrica, como leptospirose e cólera. Inundações também podem contaminar fontes de água potável, levando a surtos de doenças infecciosas. A variabilidade das chuvas afeta o fornecimento de água doce, aumentando o risco de doenças diarreicas, que causam cerca de 760.000 mortes de crianças menores de cinco anos anualmente.

As mudanças climáticas também podem prolongar as estações de transmissão de doenças transmitidas por vetores e alterar sua distribuição geográfica. Secas e inundações, que estão se tornando mais frequentes e intensas, poluem fontes de água e criam condições propícias para doenças transmitidas por insetos, como malária, dengue, zika e chikungunya e febre amarela, além da Doença de Lyme, transmitida por carrapatos.

As mudanças climáticas afetam a produção agrícola, podendo levar à escassez de alimentos e ao aumento de preços, resultando em desnutrição, que já causa 3,1 milhões de mortes por ano, e maior vulnerabilidade a doenças. A segurança alimentar também é comprometida pelo aumento de toxinas e patógenos em alimentos.

Estresse térmico e outros impactos

Segundo Sandra Hacon, pesquisadora da Fiocruz, o estresse térmico é um dos impactos mais significativos da emergência climática na saúde. O aumento das temperaturas pode levar a condições como exaustão por calor e insolação, que são particularmente perigosas para idosos, crianças e pessoas com doenças crônicas. Além disso, o estresse térmico pode agravar condições cardiovasculares e respiratórias, aumentando a mortalidade durante ondas de calor.

A pesquisadora também destaca que a emergência climática pode exacerbar desigualdades sociais e de saúde. Populações marginalizadas, que já enfrentam desafios de acesso a serviços de saúde, são as mais vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas. Isso inclui comunidades rurais, indígenas e habitantes de periferias urbanas, que muitas vezes têm menos recursos para se adaptar às mudanças ambientais.

Populações em Risco

Todas as populações serão afetadas, mas algumas são mais vulneráveis, como habitantes de pequenos estados insulares, regiões costeiras, megalópoles e áreas montanhosas e polares. Crianças em países pobres, idosos e pessoas com doenças pré-existentes são particularmente vulneráveis.

Mudanças Climáticas e as IRAS, existe correlação?

Marielly salienta que embora a relação entre mudanças climáticas e IRAS não seja direta, os impactos climáticos podem criar condições que aumentam o risco de infecções relacionadas à assistência à saúde. Isso inclui a superlotação de hospitais, a pressão sobre a infraestrutura de saúde, o aumento de doenças infecciosas e o desenvolvimento de resistência antimicrobiana.

Aumento de Microrganismos Perigosos

Durante um recente debate sobre o tema, especialistas destacaram que a elevação das temperaturas globais têm impulsionado o crescimento e a disseminação de microrganismos potencialmente letais, como o Candida auris. Esse fungo emergente é resistente a múltiplos antifúngicos e tem sido associado a surtos hospitalares, especialmente em ambientes de cuidados intensivos. As temperaturas mais altas favorecem sua proliferação, tornando-o um desafio crescente para os sistemas de saúde ao redor do mundo.

Além do C. auris, o aquecimento global está criando condições ideais para a proliferação de outros patógenos preocupantes, como bactérias resistentes a antibióticos e vírus emergentes. 

“Temos uma tremenda proteção contra fungos ambientais por causa da nossa temperatura. No entanto, se o mundo está ficando mais quente e os fungos também começam a se adaptar a temperaturas mais altas. Alguns vão atingir o que chamo de barreira de temperatura”, disse Arturo Casadevall, microbiologista, imunologista e professor da Universidade Johns Hopkins, à Associated Press.

Portanto, é essencial que os sistemas de saúde se preparem para esses desafios, fortalecendo práticas de controle de infecções e investindo em infraestrutura resiliente para mitigar os riscos associados às mudanças climáticas.

A especialista reforça ainda que as mudanças climáticas representam um desafio significativo para a saúde global. É essencial que políticas públicas e ações individuais sejam tomadas para mitigar esses efeitos e proteger a população.

A conscientização e a educação sobre os riscos associados às mudanças climáticas são fundamentais para promover uma resposta eficaz e sustentável. A saúde do planeta e a saúde humana estão intrinsecamente ligadas, tornando o combate às mudanças climáticas uma questão de saúde pública.

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