Hepatite aguda grave de origem desconhecida em crianças: um novo desafio para a saúde

Oleak
13/05/2022
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Conheça a nova preocupação da área saúde, a Hepatite Aguda Grave, e entenda como tudo começou e quais as medidas para o controle dos novos casos da doença.

Hepatite aguda grave de origem desconhecida em crianças: um novo desafio para a saúde

Os meses de março e abril deste ano chegaram com uma lufada de ar novo. O mundo pode experimentar o início de uma nova fase, a fase pós-pandêmica. A vacinação fez com que a Covid-19 passasse a ter uma incidência menor de casos; os hospitais passaram a ter um número mais reduzido de pacientes internados pela doença e medicações específicas para o tratamento foram mundialmente aprovadas para uso. 

Diante desse cenário promissor, tudo parecia caminhar para um momento de mais equilíbrio e tranquilidade. Tudo parecia indicar que o mundo poderia se reconstruir depois da crise sanitária e das crises econômicas e sociais decorrentes dela. No entanto, ainda no mês de abril, no dia 05, mais especificamente, o surgimento de uma nova doença veio para nos desafiar de novo. A nova preocupação em saúde é a hepatite aguda grave de origem desconhecida.

Por isso, preparamos este artigo – com base em dados de órgãos oficiais de saúde pública e de instituições de controle de infecção – para falar um pouquinho sobre esta atual – e desafiadora – doença.  

Aproveite a leitura e tire as suas dúvidas!

Primeiro sinal da Hepatite Aguda Grave

O primeiro sinal de alerta em relação à doença veio do Reino Unido que notificou oficialmente a Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre a ocorrência de 10 casos de hepatite aguda grave de causa desconhecida na região central da Escócia. 

Mas o que chamou mais atenção foi que os casos ocorreram em crianças saudáveis com idade entre 11 meses e 5 anos de idade. Todos os casos foram diagnosticados quando as crianças foram hospitalizadas.

Após 10 dias corridos, em 15 de abril de 2022, a OMS emitiu um alerta no qual informava que o cenário tinha se tornado mais preocupante. Neste momento, o mundo já registrava dezenas de casos em diversos países, a maioria deles na Europa e nos Estados Unidos.

Em 23 de abril de 2022, a OMS mais uma vez voltou a notificar a população mundial sobre a incidência da hepatite aguda grave de origem desconhecida, que já somava 169 casos confirmados. Infelizmente, as notificações passaram a apresentar um aumento na gravidade, tendo em vista o acometimento de bebês, crianças e adolescentes. 

Para termos uma ideia do avanço da gravidade da doença, a idade dos pacientes passou a ser de 01 mês a 16 anos e, infelizmente, 17 crianças, aproximadamente 10% do total, desenvolveram insuficiência hepática necessitando de transplante de fígado.

Para complementar as informações, inserimos um gráfico logo a seguir que apresenta dados da Europa referentes ao número de crianças acometidas por hepatite aguda grave de origem desconhecida no período de 01 de janeiro de 2022  a 12 de abril de 2022.

O que as crianças têm apresentado como quadro clínico?

Bem, mas quais os sinais clínicos da hepatite aguda grave de origem desconhecida? Nos pacientes do Reino Unido, foram detectados níveis elevados de enzimas hepáticas e, em muitos casos, os doentes apresentavam icterícia (pele com tom amarelado, podendo ocorrer também na região esclerótica ocular, ou seja, a parte branca do olho). 

Em alguns casos, foram relatados sintomas gastrointestinais, incluindo dor abdominal, diarréia e vômitos nas semanas anteriores. A maioria dos casos não apresentou febre. 

Alguns pacientes precisaram de atendimento em unidades pediátricas especializadas para doenças do fígado e alguns, como dissemos anteriormente, foram submetidos a um transplante de fígado.

O serviço de saúde pública e órgãos fiscalizadores do Reino Unido têm realizado um método de investigação detalhado para compreender qual seria a causa da doença.

As investigações incluem históricos de exposição detalhados que envolvem testes toxicológicos e testes virológicos/microbiológicos adicionais. Os materiais coletados são analisados por profissionais de saúde, especialistas em doenças do fígado.

Mas o que a comunidade científica tem entendido como a causa da hepatite aguda grave de origem desconhecida?

Descobrir a causa de uma doença é descobrir a chave para sua prevenção. Assim, para eliminar possibilidades, a Agência de Segurança da Saúde do Reino Unido informou que os vírus das hepatites virais do tipo A, B, C, D e E não foram detectados nos casos do país, indicando outras origens. 

No momento, acredita-se que o Adenovírus possa ser a causa da hepatite aguda grave de origem desconhecida. Trata-se de uma família de vírus que costuma causar doenças leves, como resfriados, vômitos e diarréia.

O Adenovírus está sendo considerado um possível culpado, no entanto, por ser causador de quadros leves, a comunidade científica defende que ele não seja capaz de explicar, totalmente, a gravidade do quadro clínico apresentado pelos pacientes.

Outras causas possíveis do surto de hepatite em crianças na Europa e nos EUA estão sendo sondadas, como por exemplo a hipótese de efeitos adversos da Covid-19. 

Vale destacar que nenhum vínculo com a vacina contra o Coronavírus foi identificado e informações detalhadas, coletadas por meio de um questionário sobre alimentos, bebidas e hábitos pessoais, não identificaram nenhuma exposição comum. 

Na tabela abaixo temos os dados sobre a presença do Adenovírus e do SARS-COV entre os casos de hepatite. Confira na imagem: 

Quais as medidas de controles para novos casos? O que temos como orientação?

Atenção, prevenção e contenção são palavras de ordem quando se trata de uma doença a ser compreendida em sua totalidade. Por isso, medidas de controle contra a disseminação da hepatite aguda grave de origem desconhecida têm sido tomadas por órgãos fiscalizadores em saúde pública e controle de infecção. 

De acordo com a OMS, a situação está sendo monitorada e não é preciso, no momento, restringir viagens nem atividades comerciais com o Reino Unido ou com outros países que tenham casos confirmados.

Mas se faz necessário que os serviços de saúde estejam atentos às seguintes definições de casos:

  • Definição de Caso Suspeito: uma pessoa com hepatite aguda (sem ser relacionada às hepatites virais A, B,C, D e E) com transaminase sérica >500 UI/L (AST ou ALT), em pessoas de 16 anos ou menos, desde 1 de janeiro de 2021. 
  • Definição de Contato de Caso Suspeito: uma pessoa com hepatite aguda (sem ser relacionada às hepatites virais A, B,C, D e E) de qualquer idade que seja um contato próximo de um caso confirmado, desde 1º de janeiro de 2021. 

Importante destacar que, caso o médico opte por colher sorologia de hepatite A e/ou B e/ou C e/ou D e/ou E e os resultados da sorologia estiverem em análise, mas outros critérios forem atendidos, estas situações deverão ser notificadas. 

Como o profissional de saúde pode notificar casos suspeitos?

Para notificar um caso suspeito de hepatite aguda grave de origem desconhecida, os profissionais de saúde podem acessar qualquer um dos meios abaixo:

  • formulário de notificação imediata de Doenças, Agravos e Eventos de Saúde Pública: https://forms.office.com/r/BGwZjYz9Mu.   
  • e-mail: notifica@saude.gov.br 
  • telefone: 0800.644.66.45 

Esperamos que as informações compartilhadas aqui possam ser úteis para detecção e contenção da doença e para que possamos, mesmo diante dos novos desafios em saúde, nos reconstruirmos e seguirmos em constante evolução.  

Até o próximo! 

Referências utilizadas:

ECDC. Atualização: Hepatite de origem desconhecida em crianças. Disponível em: https://www.ecdc.europa.eu/en/news-events/update-hepatitis-unknown-origin-children. Acessado em: 26/04/2022. 

WHO. Event Information Site for IHR National Focal Points. Disponível em: https://extranet.who.int/ihr/eventinformation/event/2022-e000081. Acessado em: 26/04/2022. 

Comunicação de risco Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde. CIEVS 

Coordenação Geral de Emergências em Saúde Pública.CGEMSP. Departamento de Saúde Ambiental, do Trabalhador e Vigilância das Emergências em Saúde Pública.DSASTE Secretaria de Vigilância em Saúde.SVS Ministério da Saúde/MS.Número 05. Divulgado em 24.04.2022

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