Infecções fúngicas no Brasil: avanços, desafios e o que hospitais precisam saber
Infecções fúngicas no Brasil estão crescendo. Saiba causas, riscos, fungos emergentes, prevenção hospitalar e evidências científicas atualizadas.
Cris Collina
02/12/2025
Crescimento de casos, fungos resistentes e surtos recentes exigem maior vigilância, prevenção e protocolos de segurança em saúde pública e hospitalar.
As infecções fúngicas têm crescido no Brasil e no mundo, impulsionadas por fatores ambientais, aumento da imunossupressão entre pacientes e maior circulação de fungos resistentes, como Candida auris.
Embora muitas pessoas ainda associem fungos apenas a micoses superficiais, infecções sistêmicas podem ser graves e letais — e são especialmente preocupantes em ambientes hospitalares, onde pacientes estão mais vulneráveis.
Esta matéria apresenta conceitos essenciais, dados atualizados, exemplos práticos e as recomendações mais recentes de organismos como OMS, Ministério da Saúde e ANVISA.
O que são infecções fúngicas?
Infecções fúngicas são doenças causadas pela invasão do organismo por fungos capazes de colonizar tecidos humanos. Podem ser:
- superficiais (pele, unhas),
- subcutâneas, ou
- sistêmicas, quando atingem órgãos internos e representam risco elevado.
Fungos se proliferam em ambientes úmidos, poeira, materiais orgânicos e superfícies mal higienizadas. Muitas espécies conseguem sobreviver por longos períodos em equipamentos hospitalares, mobiliários e tecidos. O risco aumenta em pessoas imunossuprimidas, internadas em UTI, ou em uso de dispositivos invasivos.
Segundo a OMS (2022), no documento WHO fungal priority pathogens list to guide research, development and public health action, 19 fungos são considerados prioritários devido à sua alta mortalidade, potencial de causar surtos e resistência antifúngica.
Dados sobre mortalidade e impacto global
- Infecções fúngicas causam entre 1,5 milhão a 3,5 milhões de mortes por ano globalmente, não somente de pacientes internados.
- Bilhões de pessoas sofrem micoses superficiais anualmente, mas os casos graves concentram-se em grupos vulneráveis.
- Em surtos hospitalares, Candida auris apresenta mortalidade média entre 30% e 60%.
Classificação oficial dos fungos prioritários (OMS, 2022)
A OMS dividiu os fungos de maior impacto em três níveis de prioridade:
GRUPO 1 — Prioridade Crítica
- Candida auris
- Candida albicans
- Aspergillus fumigatus
- Cryptococcus neoformans
Motivos: alta mortalidade, resistência antifúngica, surtos frequentes e diagnósticos limitados.
GRUPO 2 — Alta Prioridade
- Histoplasma spp.
- Mucorales (mucormicose)
- Fusarium spp.
- Cryptococcus gattii
GRUPO 3 — Prioridade Média
- Coccidioides spp.
- Paracoccidioides spp.
- Pneumocystis jirovecii
- Scedosporium spp.
Por que as infecções fúngicas estão aumentando no Brasil?
Vários fatores explicam esse crescimento:
- Envelhecimento da população e aumento de pacientes imunossuprimidos (idosos, diabéticos, transplantados, pessoas com HIV, pacientes em UTI).
- Uso disseminado de antibióticos, que desequilibra a microbiota e favorece fungos.
- Mudanças climáticas, que expandem a distribuição geográfica de espécies ambientais.
- Crescimento urbano e obras sem controle de poeira, liberando esporos de Aspergillus e Histoplasma.
- Uso agrícola de fungicidas azóis, associado ao aumento da resistência de Aspergillus fumigatus.
- Emergência de espécies resistentes, como Candida auris, identificada em surtos brasileiros entre 2022 e 2024.
Os fungos de maior importância clínica no Brasil
Candida spp. (com destaque para Candida auris)
- Frequente em UTIs e em pacientes com cateteres venosos centrais.
- Sobrevive por semanas em superfícies e formas de biofilmes resistentes.
- Classificada pela OMS como “prioridade crítica”.
- A ANVISA publicou a Nota Técnica – Orientações para identificação, prevenção e controle de infecções por Candida auris devido à gravidade do tema.
Aspergillus spp.
- Comum em poeira, solos e materiais de construção.
- Pode causar aspergilose pulmonar invasiva, especialmente em imunossuprimidos.
- Reformas hospitalares sem contenção adequada são uma fonte conhecida de surtos.
Histoplasma capsulatum
- Associado a fezes de aves e morcegos.
- Esporos podem ser inalados durante limpeza de ambientes contaminados ou obras.
- Casos recentes no Espírito Santo e Minas Gerais reforçaram o alerta.
Cryptococcus neoformans e C. gattii
- Causam criptococose, frequentemente associada a meningite.
- Afetam principalmente pacientes com HIV/AIDS e imunossuprimidos.
Como as infecções fúngicas ocorrem?
1. Inalação de esporos
Comum para Aspergillus, Histoplasma e Cryptococcus — principalmente em:
- obras e reformas,
- locais com presença de fezes de aves,
- áreas com poeira acumulada.
2. Contaminação de superfícies e equipamentos
Especialmente importante para Candida auris:
- sobrevive dias ou semanas,
- forma biofilmes,
- pode ser transmitida por mãos e superfícies.
3. Dispositivos invasivos
Cateteres, sondas, ventilação mecânica e próteses favorecem colonização e entrada de fungos.
4. Uso prolongado de antibióticos
Reduz a microbiota protetora e permite proliferação fúngica.
Como prevenir infecções fúngicas em hospitais
A OMS define cinco áreas estratégicas para reduzir a transmissão de fungos em serviços de saúde, complementadas por medidas práticas essenciais.
1) Diagnóstico e Tratamento: identificar rápido para agir rápido
Hospitais devem ampliar o acesso a exames rápidos, padronizar métodos laboratoriais e priorizar testes moleculares capazes de identificar espécies críticas como Candida auris.
O tratamento depende da espécie identificada e da gravidade:
- Anfotericina B lipossomal
- Azóis (fluconazol, voriconazol, itraconazol)
- Equinocandinas (eficazes contra Candida resistente)
- Remoção de cateteres e próteses contaminadas
Candida auris muitas vezes exige combinação de antifúngicos.
2) Vigilância: monitorar pessoas, ambientes e eventos
A vigilância deve incluir:
- sistemas de notificação,
- rastreamento de surtos,
- culturas ambientais,
- monitoramento específico durante obras.
O objetivo é detectar precocemente a circulação de fungos e evitar surtos.
3) Prevenção e controle: reduzir fontes, interromper rotas
Medidas estruturantes incluem:
- protocolos de biossegurança,
- rotinas de limpeza específicas para fungos,
- controle de umidade,
- barreiras físicas em obras, com acompanhamento diário da Comissão de Obras (incluindo membros do SCIH) para garantir a efetividade do controle das práticas de prevenção.
- selamento adequado de áreas críticas.
4) Pesquisa e desenvolvimento
A OMS recomenda que países invistam em:
- novos antifúngicos,
- métodos diagnósticos ultrarrápidos,
- pesquisas sobre vacinas.
5) Acesso a tratamentos
Inclui:
- ampliação de estoques nacionais,
- redução de custos,
- garantia de fornecimento contínuo de antifúngicos essenciais.
Medidas práticas no dia a dia hospitalar
Além das estratégias da OMS, são ações imediatas:
1. Controle rigoroso de obras e reformas
- vedação completa,
- barreiras físicas,
- pressão negativa quando indicada,
- limpeza úmida constante para reduzir a poeira – protocolo de remoção de entulho alinhado com SCIH.
2. Protocolos de limpeza e desinfecção específicos
- uso de desinfetantes com eficácia comprovada contra fungos e biofilmes,
- limpeza mecânica antes da desinfecção química,
- intensificação em UTIs e áreas de isolamento.
3. Vigilância ativa
- rastreamento de colonização por Candida auris,
- notificação ao CIEVS,
- culturas ambientais quando houver suspeita de transmissão.
4. Manejo adequado de resíduos e áreas externas
- limpeza técnica de locais com fezes de aves ou morcegos,
- equipes treinadas para identificar riscos ambientais.
5. Higiene das mãos
A medida mais simples e mais efetiva para evitar transmissão cruzada — inclusive de espécies resistentes.
O papel da Oleak na prevenção de infecções fúngicas em ambientes hospitalares
A Oleak atua há décadas no desenvolvimento de soluções de limpeza, desinfecção e biossegurança voltadas para ambientes de alta complexidade, como hospitais, laboratórios e UTIs.
Com foco na prevenção de IRAS e no controle microbiológico ambiental, a empresa desenvolve:
- tecnologias de desinfecção com eficácia comprovada contra fungos relevantes,
- produtos que auxiliam no rompimento de biofilmes,
- soluções específicas para superfícies sensíveis e equipamentos hospitalares,
- capacitação técnica para equipes de limpeza e controle de infecção,
- consultoria em gestão de riscos ambientais.
A atuação da Oleak contribui diretamente para que hospitais implementem rotinas seguras, alinhadas às recomendações da OMS, ANVISA e programas de controle de infecção.
O cenário das infecções fúngicas no Brasil exige vigilância contínua, protocolos robustos e soluções profissionais de desinfecção. Com fungos cada vez mais resistentes e ambientes hospitalares mais complexos, a prevenção deixa de ser apenas uma recomendação: torna-se uma necessidade estratégica de segurança do paciente.
Ao integrar ciência, tecnologia e boas práticas, hospitais conseguem reduzir riscos, evitar surtos e proteger vidas. Nesse contexto, a Oleak reforça seu compromisso com a inovação, a segurança e o suporte técnico às instituições de saúde de todo o país.
FAQ — Perguntas e Respostas
Pergunta: O que é uma infecção fúngica?
Resposta: É uma doença causada pela invasão do corpo por fungos que se proliferam em tecidos humanos. Pode ser superficial ou sistêmica, dependendo da profundidade e gravidade.
Pergunta: Quais são os fungos mais perigosos no Brasil?
Resposta: Candida auris, Aspergillus fumigatus, Histoplasma capsulatum, Cryptococcus neoformans e C. gattii.
Fonte: WHO, 2022.
Pergunta: Por que Candida auris preocupa tanto?
Resposta: Por sua resistência a múltiplos antifúngicos e capacidade de sobreviver por semanas em superfícies hospitalares.
Fonte: ANVISA, 2024.
Pergunta: Infecções fúngicas são contagiosas?
Resposta: A maioria não se transmite entre pessoas, com exceção de Candida auris, que pode passar por contato com superfícies ou mãos contaminadas.
Pergunta: Como ocorre a transmissão de Aspergillus?
Resposta: Pela inalação de esporos presentes em poeira, especialmente em obras.
Fonte: Lancet Infectious Diseases, 2021.
Pergunta: Quais os principais sintomas de infecções sistêmicas?
Resposta: Febre persistente, falta de ar, tosse, confusão mental, mal-estar extremo e sinais de sepse.
Pergunta: Como é feito o diagnóstico rápido?
Resposta: Testes moleculares, cultura e métodos como MALDI-TOF possibilitam identificação rápida da espécie.
Pergunta: A limpeza correta previne surtos?
Resposta: Sim. Processo alinhado com boas práticas de prevenção de infecção envolve: Desinfetantes adequados, limpeza mecânica e higiene das mãos reduzem drasticamente o risco de transmissão.
Pergunta: Existe tratamento para infecções fúngicas graves?
Resposta: Sim, com antifúngicos sistêmicos como anfotericina B, azóis e equinocandinas.
Pergunta: Mudanças climáticas influenciam fungos?
Resposta: Sim. Climas mais quentes e úmidos favorecem a proliferação de fungos ambientais.
REFERÊNCIAS
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. WHO fungal priority pathogens list to guide research, development and public health action. Geneva: WHO, 2022. Disponível em: https://www.who.int/publications/i/item/9789240060241. Acesso em: 27 nov. 2025.
ANVISA. Nota Técnica GVIMS/GGTES/ANVISA Nº 02/2022 — Orientações para identificação, prevenção e controle de infecções por Candida auris em serviços de saúde. Brasília, 2024. Disponível em: https://www.gov.br/anvisa.
MELLO, C. C. et al. Colonized patients by Candida auris: third and largest outbreak in Brazil and impact of biofilm formation. 2023. Disponível em: https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC9900136/.
KOEHLER, P.; et al. Defining and managing COVID-19-associated pulmonary aspergillosis. The Lancet Infectious Diseases, 2021. Disponível em: https://www.thelancet.com.MINISTÉRIO DA SAÚDE. Criptococose. Brasília. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/c/criptococose.


