A cólera, uma doença infecciosa intestinal causada pela bactéria Vibrio cholerae. É uma preocupação global de saúde pública, apesar de não figurar frequentemente nos noticiários.
Recentemente, o Ministério da Saúde emitiu uma nota técnica reiterando a importância de medidas preventivas e cuidados para evitar o ressurgimento dessa doença potencialmente letal.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, cerca de 473 mil casos de cólera foram registrados em 2022, o dobro do número de 2021. Em 2023, dados preliminares indicam que esse número subiu novamente para mais de 700 mil diagnósticos. Os impactos mais graves estão em Comores, República Democrática do Congo, Etiópia, Moçambique, Somália, Zâmbia e Zimbábue. Na Síria também foram notificados mais de 10 mil casos suspeitos. Nas Américas, além do Brasil, a cólera está presente no Haiti e na República Dominicana.
Nesta matéria, Marielly Herrera – enfermeira especialista em prevenção de infecções da Oleak, aborda mais informações sobre a doença, bem como quais são as medidas preventivas para evitá-la. Boa leitura!
O Ressurgimento Potencial da Cólera
Embora a cólera não tenha sido uma ameaça iminente em muitas regiões há algum tempo, fatores como mudanças climáticas, desastres naturais e condições socioeconômicas precárias podem contribuir para a sua ressurgência. O aumento das temperaturas globais e eventos climáticos extremos podem afetar a qualidade da água e o saneamento básico, criando condições ideais para a propagação da bactéria causadora da cólera.
O Brasil tem caso confirmado após 18 anos
Depois de 18 anos sem casos autóctones de cólera no Brasil, o país registrou uma ocorrência da doença no mês de março. O Ministério da Saúde confirmou o diagnóstico no último domingo (21). Segundo que não há evidências de outras pessoas com cólera no país por enquanto.
Em geral, casos autóctones são aqueles que têm origem no local em que foi feito o diagnóstico. Ou seja, a contaminação ocorreu em solo brasileiro.
Até agora, os últimos registros de casos autóctones de cólera eram de 2004, com 21 ocorrências, e de 2005, com cinco ocorrências. Das duas vezes, os casos aconteceram em Pernambuco.
No último dia 22/04/2024, a Secretaria de Saúde do Governo da Bahia, emitiu a confirmação laboratorial de um caso de cólera autóctone no Brasil, no município de Salvador, na Bahia, com a identificação do agente Vibrio cholerae O1 Ogawa (toxigênico). O indivíduo não tem histórico de deslocamento para países com ocorrência de casos confirmados, nem de contato com outro caso suspeito ou confirmado da doença. Entretanto, o caso foi detectado por meio de vigilância ativa laboratorial. Trata-se de um homem de 60 anos, residente no município de Salvador, que apresentou um desconforto abdominal e diarreia aquosa, em março de 2024. Duas semanas antes ele havia feito uso de antibiótico para tratamento de outra patologia.
Trata-se de um caso isolado, tendo em vista que não foram identificados outros casos, após a investigação epidemiológica realizada pelas equipes de saúde locais junto às pessoas que tiveram contato com o paciente.
Considerando que o período de transmissibilidade da doença é de um a dez dias após a infecção, mas que para as investigações epidemiológicas, no Brasil, está padronizado o período de transmissibilidade de até 20 dias por uma margem de segurança, o paciente não transmite mais o agente etiológico desde o dia 10/04/2024.
A Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) ressalta que todas as medidas necessárias para prevenção e controle, como análise da água, foram prontamente implementadas e que a situação está sendo monitorada.
Cuidados em Caso de Suspeita de Cólera
É crucial reconhecer os sintomas da cólera e buscar assistência médica imediata em caso de suspeita de infecção. Os sintomas comuns incluem diarreia aquosa grave, vômitos, com diferentes graus de intensidade, o que acaba sendo confundido com outras doenças. Também pode ocorrer dor abdominal e, nas formas mais severas, cãibras, desidratação que é uma complicação grave da cólera e pode levar à morte se não for tratada rapidamente e choque.
A enfermeira Marielly reforça, no entanto, que a doença pode evoluir para complicações, ocorrendo em pessoas com maior vulnerabilidade, como idosos, diabéticos, imunossuprimidos, entre outros, podendo levar a deterioração progressiva da circulação, da função renal e do equilíbrio de água e minerais no corpo, causando dano a todos os sistemas do organismo.
Medidas Preventivas
A principal via de transmissão é a via oral-fecal, pela ingestão de alimentos ou água contaminados com a bactéria, ou pela contaminação entre pessoas. É preciso tomar cuidado no preparo de alimentos como frutos do mar, especialmente se consumidos crus.
Os principais fatores de risco associados a casos de cólera são condições precárias de saneamento básico e de higiene pessoal, além do consumo de alimentos sem a correta higienização e manipulação.
Para evitar a propagação da cólera e proteger a saúde pública, é essencial adotar medidas preventivas rigorosas. Com base na nota técnica do Ministério da Saúde, algumas diretrizes fundamentais incluem:
Higiene das mãos: Lavar as mãos frequentemente com água e sabão, especialmente após o uso do banheiro e antes das refeições, é crucial para prevenir a transmissão da cólera. Ou com produtos como o Opticare Toilette, um sabonete de uso geral sem espuma que não contém fragrância, corantes e nem conservantes.
Água potável: Consumir apenas água potável, fervida ou tratada com produtos químicos adequados, pode reduzir significativamente o risco de infecção por cólera.
Saneamento básico: Garantir o acesso a instalações sanitárias adequadas e sistemas de esgoto eficientes é essencial para prevenir a contaminação da água e evitar surtos de cólera.
Lave e desinfete as superfícies, utensílios e equipamentos usados na preparação de alimentos.
Não utilize água de riachos, rios ou poços contaminados para se banhar ou beber.
Alimentos seguros: Consumir alimentos frescos e bem cozidos, evitar alimentos de procedência duvidosa e higienizar frutas e vegetais antes do consumo são medidas importantes para prevenir doenças transmitidas por alimentos, incluindo a cólera.
Vacinação: Em áreas de alto risco ou durante surtos, a vacinação contra a cólera pode ser recomendada como uma medida adicional de proteção.
Atualmente, existem vacinas contra a cólera, mas são indicadas apenas para “áreas endêmicas para a doença, populações em situação de crise humanitária com alto risco para cólera ou durante surtos de cólera, sempre em conjunto com outras estratégias de prevenção e controle”, segundo o Ministério da Saúde.
Recentemente, a OMS pré-qualificou uma vacina oral contra a cólera (Euvichol-S), utilizando a toxina inativada (ou seja, sem capacidade de gerar a doença no organismo). Sua formulação simples, somado a aplicação em dose única, pode facilitar a produção e adesão populacional.
Marielly reforça que a cólera é uma doença facilmente tratável. A maioria das pessoas pode ser tratada com sucesso através da administração imediata de solução de reidratação oral (SRO).
Embora não haja motivo para pânico, a conscientização e a adoção de medidas preventivas são fundamentais para evitar o ressurgimento da cólera e proteger a saúde pública. O engajamento comunitário, a educação em saúde e o acesso a serviços de saneamento básico e cuidados médicos adequados são componentes essenciais de uma estratégia abrangente de prevenção de doenças infecciosas como a cólera.
Em suma, ao adotar práticas de higiene adequadas, garantir o acesso a água potável e saneamento básico e buscar assistência médica em caso de sintomas suspeitos, podemos contribuir significativamente para a prevenção e controle da cólera, mantendo nossas comunidades seguras e saudáveis.