Vacina para salvar vidas, para erradicar doenças, para aumentar a expectativa de vida da população. Quando falamos em programas de saúde, com ênfase em controle de imunização, é inegável a posição de destaque do Brasil, como referência mundial ao desenvolver o PNI (Programa Nacional de Imunização).
Dentro do PNI foi organizado um calendário no Sistema Único de Saúde (SUS) que contempla diversas vacinas de acordo com faixa etária, condições especiais de saúde e, até mesmo, abrangendo o programa de saúde do trabalhador. Vale destacar que pouquíssimos países do mundo oferecem esse amplo leque de imunobiológicos de forma acessível e gratuita.
No entanto, a alta taxa de adesão ao Programa Nacional de Imunização tem deixado de ser uma prática da população brasileira, colocando em risco a saúde de todos e, automaticamente, chamando a atenção de especialistas e de profissionais da área da saúde. Fato interessante é que a queda na adesão não teve início durante a pandemia de Covid-19. Então, para entender quais fatores podem estar contribuindo para esse movimento, preparamos este artigo. Acompanhe a leitura.
Possíveis fatores para a baixa adesão ao Programa Nacional de Vacinação
Muitos especialistas têm discutido as múltiplas causas que podem influenciar na queda da adesão ao programa de imunização. Assim, a partir disso, reunimos aqui alguns insights discutidos por órgãos respeitados, como o CONASS (Conselho Nacional de Secretários de Saúde), o Ministério da Saúde, o Bio Manguinhos e o Instituto Butantan, sobre hipóteses que colaboram para a queda na adesão ao PNI. Veja a seguir:
1. Programa de vacina “vitalício”
O PNI foi responsável pelo controle de doenças que as pessoas, hoje na faixa etária dos 30 a 50 anos, acreditam já estarem controladas e, por isso, imaginam que não precisam mais vacinar-se e/ou fazer reforços de vacina.
No entanto, o Ministério da Saúde, ao definir o programa, estabelece um cronograma completo com número de doses, intervalos de reforços e faixas etárias para realizar as aplicações no tempo certo.
Sendo assim, para o sucesso do programa, todo indivíduo deveria ter o esquema vacinal adequado, com as doses sendo aplicadas no momento certo, para que a proteção oferecida pelo imunizante seja eficaz. Ou seja, não adianta acreditar, por exemplo, que tomando três doses seguidas em tempo mais curto você terá a imunidade conferida com maior eficácia. É preciso respeitar corretamente os intervalos.
Conforme citado pelo Diretor do BioManguinhos, Dr. Mauricio Zuma, “(…)a imunização é a única maneira de garantir que doenças erradicadas não voltem” e, para isso, “(…)é preciso fortalecer a confiança da sociedade nas vacinas de distribuição pública”.
2. Falha na organização de gestão em práticas de saúde no nível primário
Uma segunda hipótese é de que possa haver uma falha na organização de práticas de APS – Atenção Primária à Saúde, já que os cuidados empregados em relação à vacina ocorrem por meio das Unidades Básicas de Saúde (UBS).
A UBS é responsável por cuidar de uma abrangência geográfica, zelando pela saúde do cidadão desde o pré-natal, passando pelo nascimento e acompanhando o seu crescimento.
Dessa forma, o programa de atenção à saúde foi desenvolvido para acompanhar as pessoas a partir da avaliação dos agentes comunitários e das equipes de saúde de forma organizada e proativa e não somente por meio do cuidado pontual, quando se busca por atendimento em caso de alguma queixa ou doença, por exemplo.
Vale destacar, também, que o SUS é um direito de todos, ou seja, independente da pessoa estar numa classe social econômica mais favorecida ou ter convênio médico, ela tem o direito à avaliação e ao atendimento pela equipe da UBS.
3. Mudança no sistema de controle de doses de vacina administradas
Outro ponto importante que pode ter colaborado para esta queda na adesão é o fato do sistema de controle de doses aplicadas ter sofrido um upgrade. Anteriormente, o sistema era controlado somente por doses aplicadas, e hoje temos um programa informatizado que abrange todos os dados de cada pessoa do território brasileiro, desde o nome até o local onde ela reside.
O ponto positivo da informatização é de favorecer a criação de relatórios de controle de adesão ao programa de vacina por localização, gênero, faixa etária, dentre outras informações. Mas, para isso, o SUS precisa vencer o obstáculo de conseguir a capacitação de 100% dos colaboradores que trabalham no registro dessas informações, para que o sistema conte, de fato, com dados precisos.
4. Movimento antivacinas
Infelizmente, cresce o número de pessoas que não querem se vacinar e que recusam vacinar seus filhos. A justificativa de alguns para não vacinar seus filhos tem sido a crença infundada de que as vacinas poderiam trazer malefícios e doenças, como o câncer. Alguns ainda se apoiam no movimento que, há algum tempo, vem sendo organizado na Europa, que desencoraja a prática da imunização.
Esses atos, no entanto, só têm colaborado para surtos de doenças endêmicas que já haviam sido erradicadas, como, o Sarampo. Um exemplo de como surgem surtos de doenças está no turismo. Seja nas viagens a lazer ou a negócios, a circulação de pessoas não vacinadas colabora para a disseminação de doenças infectocontagiosas.
Alguns especialistas reforçam que vacinas são um tipo de medicamento e, como qualquer outro, podem ocorrer eventos adversos – desde leves até mais graves, deixando sequelas.
Mas não podemos nos esquecer de que as vacinas previnem doenças e salvam vidas, uma vez que protegem de moléstias graves.
Outro lembrete importante é de que as vacinas podem gerar reações que seriam a própria resposta do organismo ao desenvolver os anticorpos necessários contra a doença a ser prevenida.
Desse modo, tanto ao Instituto Butantan, como ao CONASS fica claro que o ideal para combater os movimentos antivacinas é a disseminação de dados, de informações qualificadas ao público e de uma comunicação em massa, minimizando as famosas “fake news”.
Em 2021, infelizmente, muitas crianças não foram vacinadas. O Brasil atingiu a alarmante marca de apenas 60% de adesão à vacina contra a Hepatite B, Tétano e Difteria e Coqueluche. Para Sarampo, Caxumba e Rubéola a taxa chegou a 75%. Se pensarmos em um programa preventivo para evitar grandes surtos, precisaríamos de uma adesão entre 90 e 95%.
Na tabela abaixo, é possível ver como o Brasil tem apresentado uma grande queda na cobertura vacinal.
Coberturas vacinais (CV) por tipo de vacinas em crianças menores de 1 ano de idade*, Brasil, 2012 a 2016 –
Por fim, ficam as perguntas para refletirmos:
Como está a sua situação vacinal? Está completa? Está atualizada?
Se você tem dúvidas sobre imunização, procure a Unidade Básica de Saúde mais próxima de sua residência e se cuide!
Até o próximo!
Referências consultadas:
A queda da imunização no Brasil. Consensus, ed 25 . outubro a dezembro 2017. Saúde em foco. Disponível em: <https://www.conass.org.br/consensus/queda-da-imunizacao-brasil/>.
No Dia Nacional da Vacinação, o Ministério da Saúde reforça a importância de manter o Brasil livre de doenças já eliminadas. Disponível em: <https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2022/outubro/no-dia-nacional-da-vacinacao-ministerio-da-saude-reforca-importancia-de-manter-o-brasil-livre-de-doencas-ja-eliminadas>.
Pense mais Sus.Vacinas. Disponível em: <https://pensesus.fiocruz.br/vacinas>
Baixa adesão leva Saúde a prorrogar Campanha Nacional de Vacinação. Disponível em : <https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2022-09/baixa-adesao-leva-saude-prorrogar-campanha-nacional-de-vacinacao>
Manifesto SBIm/SBI/SBP/Abrasco/Conasems: Campanha de vacinação exige campanha de comunicação efetiva — 28/03/2022 – Disponível: <https://sbim.org.br/images/files/notas-tecnicas/manifesto-comunicacao-campanha-sarampofinal-aprovado-280322.pdf>
Queda nas taxas de vacinação no Brasil ameaça a saúde das crianças. Disponível: <https://butantan.gov.br/noticias/queda-nas-taxas-de-vacinacao-no-brasil-ameaca-a-saude-das-criancas>