Dia Mundial de Combate à Meningite (24/04): o que é e como prevenir
Saiba o que é meningite, seus principais sintomas por faixa etária e como está a situação da doença no Brasil e no mundo em 2025.
Cris Collina
23/04/2025
Em 24 de abril, o mundo se une para conscientizar sobre os riscos da meningite, uma doença grave e potencialmente fatal.
Marielly Herrera, a enfermeira especializada em controle de infecções hospitalares da Oleak, irá abordar neste artigo mais informações sobre como está o cenário atual no Brasil e no mundo, quais são os tipos mais perigosos e como se prevenir.
O que é a meningite e por que ela representa um risco tão grave?
A meningite é uma inflamação das meninges — as delicadas membranas que revestem o cérebro e a medula espinhal. A doença pode ser provocada por diferentes agentes infecciosos, como vírus, bactérias e fungos. Entre essas, a meningite bacteriana é a forma mais grave, podendo evoluir rapidamente, causar sequelas neurológicas irreversíveis e, em casos mais severos, levar à morte em menos de 24 horas.
O diagnóstico precoce é essencial, mas nem sempre fácil: os sintomas iniciais podem se confundir com os de outras infecções comuns. A gravidade e os sinais clínicos também variam conforme a idade do paciente, exigindo atenção redobrada.
Sintomas de meningite em bebês
Nos primeiros meses de vida, a meningite pode se manifestar com sinais muitas vezes sutis. É importante observar:
- Febre, mesmo que baixa
- Mãos e pés frios (sinal de má circulação)
- Sonolência excessiva ou, ao contrário, irritabilidade intensa e choro inconsolável
- Dificuldade para mamar ou recusa alimentar
- Gemência (resmungos contínuos de dor)
- Rigidez de nuca (pescoço duro ou com dificuldade para flexionar)
- Fontanela abaulada (moleira estufada)
- Vômitos, diarreia
- Manchas vermelhas na pele
- Convulsões
Sintomas em crianças maiores, adolescentes e adultos
- Febre alta de início súbito
- Dor de cabeça intensa
- Vômitos, muitas vezes em jato
- Rigidez na nuca
- Sonolência ou confusão mental
- Convulsões
- Dor nas articulações
- Sensibilidade à luz (fotofobia)
Em qualquer faixa etária, o aparecimento desses sinais requer atenção médica imediata. Quanto mais rápido for o diagnóstico e o início do tratamento, maiores são as chances de recuperação sem sequelas.
Situação da meningite no Brasil em 2025
A doença é considerada endêmica no país, com ocorrências durante todo o ano.
As formas mais comuns da doença no Brasil são causadas por:
- Neisseria meningitidis (meningococo)
- Streptococcus pneumoniae (pneumococo)
- Haemophilus influenzae tipo b
Esses agentes são preveníveis por vacinas amplamente disponíveis na rede pública de saúde.
Segundo o estudo Meningite: perfil epidemiológico da doença no Brasil no período de 2022 a 2024 publicado em fevereiro de 2025, no ResearchGate, entre 2022 e agosto de 2024, foram confirmados 33.853 casos, com maior prevalência no sexo masculino (57%) e na faixa etária de 1 a 9 anos (34,04%). O estado com maior incidência foi São Paulo (39%), enquanto a região Sul teve a maior taxa de incidência (12,21 casos a cada 100.000 habitantes) e a Sudeste a maior taxa de óbito (52%), principalmente por pneumococo (26,53%). O critério confirmatório mais utilizado foi o quimiocitológico (27%) e a etiologia viral foi a mais comum (43,3%). A partir dos 33.852 casos de meningite confirmados no período estudado, conclui-se que os casos permaneceram endêmicos, com a etiologia viral sendo a mais incidente. O sexo masculino foi o mais afetado, e a taxa de letalidade foi de 10,88%, com o sorogrupo C sendo o mais encontrado. Além disso, a macrorregião mais acometida foi a Sudeste.
De acordo com dados do Ministério da Saúde, o Brasil registrou 1.852 casos confirmados de meningite entre janeiro e março de 2025, com 168 mortes no período.
Figura 1: Doença Meningocócica – Série histórica de 2007 a 2024 – DVE – COVISA
Figura 2: Ministério da Saúde
Cenário global: surtos e novos esforços da OMS
Globalmente, estima-se que a meningite afete 2,3 milhões de pessoas por ano, com cerca de 240 mil mortes. Países da África Subsaariana continuam sendo os mais afetados, com surtos recorrentes.
Em 2025, a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou diretrizes inéditas para diagnóstico, tratamento e cuidados pós-doença, como parte do plano “Derrotar a Meningite até 2030”. A iniciativa busca:
- Eliminar epidemias de meningite bacteriana
- Reduzir em 50% os casos preveníveis por vacina
- Diminuir em 70% as mortes relacionadas à doença
A Nigéria, por exemplo, enfrenta atualmente um surto preocupante com pelo menos 151 mortes, especialmente em regiões remotas. O país recebeu mais de 1 milhão de doses de vacina e iniciou campanhas emergenciais de imunização.
Como prevenir a meningite: vacinas são a principal arma
A principal forma de prevenção é a vacinação. No Brasil, o Programa Nacional de Imunizações oferece gratuitamente para prevenção da meningite bacteriana:
1 – Vacina meningocócica ACWY – são vacinas polissacarídicas contra os meningococos dos sorogrupos A, C, Y e W-135. O Ministério da Saúde disponibiliza esta vacina em todos os postos de saúde, para adolescentes de 11 a 14 anos, em dose única.
2 – Vacina meningocócica C – é uma vacina conjugada contra o meningococo do sorogrupo C. Está disponível na rede pública de saúde em 3 doses, uma aos 3 meses, outra aos 5 meses e uma dose de reforço aos 12 meses.
3 – Vacina contra o hemófilo Tipo B – a vacina é efetiva contra a bactéria hemófilo tipo B, que pode provocar meningite. Está disponível nos postos de saúde, na vacinação de rotina das crianças menores de 2 anos, aplicada em conjunto com as vacinas contra a difteria, tétano, coqueluche e hepatite B (vacina pentavalente).
4 – Vacina contra o pneumococo – o pneumococo é uma bactéria que também pode provocar meningite. A vacina pneumocócica 10-valente está disponível nos postos de saúde em 3 doses, uma aos 2 meses, outra aos 4 meses e uma dose de reforço aos 12 meses. As vacinas pneumocócicas 13-valente e 23-valente são disponibilizadas, em situações especiais, nos Centros de Referência para imunobiológicos especiais. A vacina pneumocócica 23-valente pode estar disponível, para pessoas acima de 60 anos, durante as campanhas nacionais de vacinação
Marielly reforça que além da imunização que é extremamente importante, a higienização correta das mãos, evitar compartilhar utensílios e manter os ambientes ventilados também ajudam a prevenir a disseminação da doença. Salienta que na meningite viral, a transmissão também pode ocorrer por meio da água e alimentos contaminados ou condições precárias de higiene.
Conscientizar é salvar vidas
O Dia Mundial de Combate à Meningite tem o objetivo de alertar a população sobre os riscos da doença, a importância da vacinação e a busca rápida por atendimento diante dos primeiros sintomas.
Com informação e prevenção, é possível salvar milhares de vidas todos os anos. Fique atento à sua caderneta de vacinação, incentive familiares e amigos a se vacinarem e contribua para a meta global de eliminar as epidemias de meningite até 2030.