O Brasil, país tropical com vasta diversidade climática e geográfica, enfrenta desafios constantes relacionados as doenças transmitidas por mosquitos, como Dengue, Zika e Chikungunya. Essas enfermidades, todas transmitidas pelo mesmo vetor, o Aedes aegypti, têm impactado a saúde pública de maneira significativa, e o aumento nos casos de Dengue tem sido particularmente preocupante. Além disso, a implementação de programas de vacinação tornou-se crucial para mitigar a propagação dessas doenças e proteger a população.
Dengue: Um Crescimento Alarmante
A Dengue, uma arbovirose causada pelo vírus transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, tem sido uma preocupação de longa data no Brasil. A incidência da doença tem aumentado significativamente nos últimos anos, colocando em alerta as autoridades de saúde e a população em geral.
Fatores como urbanização desordenada, acúmulo de lixo e água parada têm contribuído para a proliferação do vetor e, consequentemente, para o aumento nos casos de Dengue.
Em 2024, os casos de dengue diagnosticados já passam a marca de 1 milhão e 258 mortes, em apenas dois meses. No último, dia 2 de março, o Governo Federal realizou em todas as 27 Unidades da Federação o “Dia D de Mobilização Contra a Dengue”. A ação une estados e municípios para mobilizar o poder público e toda a sociedade para a prevenção da doença e da eliminação dos focos da dengue.
segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde, os casos de dengue no Brasil só aumentam, em 2023 o crescimento foi 15,8% em relação a 2022 – de 1,3 milhão em 2022 para 1,6 milhão em 2023. Já a taxa de letalidade ficou em 0,07% nos dois anos, somando 1.053 mortes confirmadas em 2023 e 999 em 2022. Os estados com maior incidência de dengue são Espírito Santo, Minas Gerais, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal e Goiás.
Os sintomas da Dengue variam de febre alta, dores musculares e articulares a complicações mais graves, como hemorragias. A forma mais grave da doença, conhecida como Dengue Hemorrágica, pode levar à morte se não for tratada adequadamente. Essa crescente incidência não apenas sobrecarrega os sistemas de saúde, mas também gera impactos socioeconômicos, com faltas no trabalho e diminuição da produtividade.
Zika e Chikungunya: desafios adicionais
Além da Dengue, o Brasil também enfrenta desafios relacionados ao Zika e Chikungunya, outras duas arboviroses transmitidas pelo Aedes aegypti. O Zika ganhou destaque internacional devido à sua associação com casos de microcefalia em bebês nascidos de mães infectadas durante a gravidez. Essa preocupação com a saúde neonatal ampliou a atenção global sobre a necessidade de combater o mosquito vetor e controlar a propagação do vírus.
A Chikungunya, embora menos discutida, não deve ser subestimada. Caracterizada por febre alta e intensas dores articulares, a Chikungunya pode se tornar crônica, afetando a qualidade de vida dos pacientes por meses ou até anos. A coexistência dessas três doenças transmitidas pelo mesmo vetor representa um desafio adicional para as autoridades de saúde, exigindo estratégias eficientes de controle e prevenção.
Aumento de Casos de Dengue: Causas e Consequências
O aumento recente nos casos de Dengue no Brasil está ligado a uma série de fatores. As condições climáticas favoráveis à reprodução do Aedes aegypti, aliadas à falta de saneamento básico em muitas regiões, contribuem para a propagação do mosquito. Além disso, a mobilidade populacional e o aumento nas viagens internacionais facilitam a disseminação do vírus.
As consequências desse aumento são multifacetadas. Os sistemas de saúde, já sobrecarregados por outras demandas, enfrentam pressão adicional. Os recursos destinados ao tratamento da Dengue competem com outras necessidades de saúde, impactando a qualidade e a disponibilidade de serviços médicos. Adicionalmente, as medidas de controle do mosquito, como a aplicação de inseticidas e a eliminação de criadouros, requerem coordenação e participação ativa da comunidade.
Vacinação: Uma Ferramenta Crucial na Prevenção
Diante do cenário desafiador, a vacinação emerge como uma ferramenta crucial na prevenção dessas arboviroses. No entanto, até o momento, a vacina contra a Dengue é a única disponível, e sua implementação enfrenta obstáculos logísticos e orçamentários. Ainda assim, a vacinação se mostra eficaz na redução da gravidade da doença e na prevenção de complicações.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBim), a Qdenga é uma vacina tetravalente produzida pela farmacêutica japonesa Takeda. O imunizante protege contra os quatro sorotipos do vírus da dengue – DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4. Feita com vírus vivo atenuado, ela interage com o sistema imunológico no intuito de gerar resposta semelhante àquela produzida pela infecção natural. O imunizante deve ser administrado em esquema de duas doses, com intervalo de três meses entre elas, independentemente de o paciente ter tido ou não dengue previamente.
Segundo o Ministério da Saúde que adquiriu um lote de 1,32 milhão de doses da vacina fornecidas pela farmacêutica Takeda. O Ministério da Saúde também adquiriu mais 5,2 milhões de doses – que, de acordo com a previsão informada pela empresa, serão entregues ao longo do ano, até novembro.
Diante da capacidade limitada de fabricação de doses da vacina, cerca de 3,2 milhões de pessoas devem ser vacinadas em 2024, já que o imunizante precisa de duas doses, com intervalo mínimo de três meses.
As vacinas que chegaram ao Brasil, foram destinadas a regiões de saúde com municípios de grande porte com alta transmissão nos últimos dez anos e população residente igual ou maior a 100 mil habitantes, levando também em conta altas taxas nos últimos meses. O público-alvo, em 2024, são crianças e adolescentes de 10 a 14 anos, faixa etária que concentra o maior número de hospitalização por dengue, depois de pessoas idosas, grupo para o qual a vacina não foi liberada pela Anvisa. O esquema vacinal é composto por duas doses com intervalo de três meses entre elas.
Até o dia 1o de março, foram distribuídas 1.235.236 doses da vacina para 521 municípios de regiões endêmicas do país. Até o fim do domingo (3), o balanço apontava 135.599 doses foram aplicadas do público-alvo, que são as crianças e adolescentes entre 10 e 14 anos.
O Brasil é o primeiro país do mundo a oferecer o imunizante no sistema público universal. O Ministério da Saúde incorporou a vacina contra a dengue em dezembro de 2023. A inclusão foi analisada de forma célere pela Conitec (Comissão Nacional de Incorporações de Tecnologias no SUS), que recomendou pela incorporação.
Infecções prévias
Quem já teve dengue, portanto, deve tomar a dose. Segundo a SBim, a recomendação, nesses casos, é especialmente indicada por conta da melhor resposta imune à vacina e por ser uma população classificada como de maior risco para dengue grave. Para quem apresentou a infecção recentemente, a orientação é aguardar seis meses para receber o imunizante. Já quem for diagnosticado com a doença no intervalo entre as doses deve manter o esquema vacinal, desde que o prazo não seja inferior a 30 dias em relação ao início dos sintomas.
Contraindicações
Conforme especificado na bula, o imunizante é indicado para pessoas de 4 a 60 anos. Como toda vacina de vírus vivo, a Qdenga é contraindicada para gestantes e mulheres que estão amamentando, além de pessoas com imunodeficiências primárias ou adquiridas e indivíduos que tiveram reação de hipersensibilidade à dose anterior. Mulheres em idade fértil e que pretendem engravidar devem ser orientadas a usar métodos contraceptivos por um período de 30 dias após a vacinação.
A conscientização da população sobre a importância da vacinação, aliada a estratégias de distribuição e campanhas de imunização, é fundamental para garantir a eficácia dessa medida preventiva. Além disso, a pesquisa contínua e o desenvolvimento de vacinas contra o Zika e Chikungunya são essenciais para ampliar o arsenal de ferramentas disponíveis no combate a essas enfermidades.
Nova vacina sendo desenvolvida pelo Butantan
A Butantan-DV, a candidata a vacina contra a dengue em desenvolvimento pelo Instituto Butantan, mostrou eficácia de 79,6% com uma única dose, conforme resultados recém-publicados do ensaio clínico de fase 3.
É composta pelos quatro sorotipos do vírus da dengue atenuados (DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4). Essa tecnologia é conhecida por induzir níveis robustos e duradouros de resposta de anticorpos e resposta celular, o que ajuda a explicar a necessidade de menos doses.
O ensaio clínico de fase 3 está em andamento com 16.235 indivíduos de todo o Brasil, com idades de 2 a 59 anos. Nas fases anteriores da pesquisa, uma segunda dose foi administrada após 6 ou 12 meses da primeira, mas não foram observadas diferenças significativas na resposta de anticorpos. Por isso, foi mantido o esquema de dose única para a fase 3.
Desafios Persistentes e Necessidade de Ação Coletiva
O aumento dos casos de Dengue e a presença contínua do Zika e Chikungunya representam desafios persistentes para o Brasil. A complexidade dessas arboviroses exige abordagens integradas, que vão desde o controle do vetor até a promoção da vacinação em larga escala. A colaboração entre setores governamentais, comunidades locais e organizações de saúde é essencial para enfrentar efetivamente essa situação de saúde pública.
A busca por soluções sustentáveis, incluindo investimentos em saneamento básico, educação em saúde e pesquisa para o desenvolvimento de novas vacinas, é fundamental para romper o ciclo de transmissão dessas doenças. Somente por meio de uma abordagem abrangente e da participação ativa de todos os setores da sociedade, será possível reduzir significativamente a incidência dessas arboviroses e proteger a saúde da população brasileira.