O Carnaval é uma das festas mais aguardadas no Brasil, caracterizada por celebrações vibrantes que atraem multidões às ruas atrás dos blocos. No entanto, essa aglomeração intensa pode propiciar a disseminação de diversas doenças.
Por isso, seria essencial que os foliões estivessem cientes dos principais riscos à saúde associados ao período pós-carnaval e adotassem medidas preventivas eficazes.
Neste artigo, Marielly Herrera, a enfermeira especializada em controle de infecções hospitalares da Oleak, irá explorar um pouco mais sobre esse assunto. E, se você aproveitou o carnaval, acompanhe as dicas e boa leitura!
Doenças mais comuns no pós-carnaval
1. Doenças Respiratórias
A proximidade entre as pessoas durante o Carnaval facilita a transmissão de doenças respiratórias.
Entre as mais preocupantes estão:
Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG):
É uma condição respiratória severa que pode ser causada por diferentes vírus, como o vírus da gripe (Influenza), o SARS-CoV-2 (causador da COVID-19) e o vírus sincicial respiratório (VSR).
Principais características da SRAG:
Sintomas: Febre, tosse, falta de ar, desconforto respiratório e, em casos mais graves, insuficiência respiratória.
Grupos de risco: Crianças pequenas, idosos, gestantes e pessoas com comorbidades como diabetes, doenças cardíacas e imunossupressão.
Transmissão: Ocorre principalmente por gotículas respiratórias e contato com superfícies contaminadas.
Diagnóstico e tratamento: Incluem exames laboratoriais e suporte respiratório em casos graves, podendo ser necessária internação em UTI.
O novo Boletim InfoGripe, divulgado em 27/2, segue apresentando sinal de aumento de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) entre crianças e adolescentes de até 14 anos, especialmente nas regiões Norte, Centro-Oeste e no estado de Sergipe.
COVID-19
Apesar dos avanços na vacinação, o vírus SARS-CoV-2 continua circulando. Especialistas da Fiocruz alertam que as aglomerações típicas do Carnaval podem aumentar a propagação do vírus, especialmente entre indivíduos não vacinados ou com esquema vacinal incompleto (quando uma pessoa não recebe todas as doses recomendadas da vacina, resultando em proteção reduzida).
A quantidade recomendada de doses da vacina contra a COVID-19 varia de acordo com o tipo de vacina:
- Pfizer-BioNTech e Moderna: 2 doses iniciais, seguidas de doses de reforço (atualmente, uma dose de reforço é recomendada).
- AstraZeneca: 2 doses iniciais, com dose de reforço recomendada.
- Johnson & Johnson: 1 dose inicial, com dose de reforço recomendada.
- Vacinas bivalentes: geralmente uma dose de reforço após as doses iniciais.
O número total de casos diagnosticados de Covid em janeiro deste ano, cresceu 68% em comparação ao mês anterior, totalizando 72.846 diagnósticos. Este aumento vem após um período de estabilidade no número de infecções, que havia atingido seu pico máximo em março de 2024, quando o país registrou cerca de 14 mil infecções semanais.
Influenza (Gripe)
O vírus H3N2, uma variante do Influenza A, tem sido responsável por surtos significativos no país. Seus sintomas incluem febre alta, inflamação na garganta, calafrios e dores articulares. A transmissão ocorre de forma semelhante à COVID-19, por meio de gotículas liberadas no ar.
O Ministério da Saúde anunciou que, a partir de agora, a vacina contra o influenza, vírus causador da gripe, faz parte do Calendário Nacional de Vacinação para crianças de 6 meses a menores de 6 anos, gestantes e idosos a partir de 60 anos de idade.
O imunizante estará disponível em todas as salas de vacina do país a partir da segunda quinzena de março. Até então, a oferta do imunizante ficava restrita às campanhas sazonais.
Sarampo
Esta doença infecciosa grave pode ser fatal e é altamente contagiosa. Os sintomas iniciais incluem febre, tosse, irritação nos olhos e manchas vermelhas pelo corpo. A vacinação é a única forma eficaz de prevenção.
Neste ano, há cinco casos em investigação e oito notificações foram descartadas até o momento. Como não houve transmissão secundária, o único registro confirmado até o momento não ameaça o status do Brasil como país livre de sarampo, reconquistado no ano passado.
2. Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs):
O clima de descontração do Carnaval pode levar ao aumento de comportamentos de risco, elevando a incidência de ISTs como:
HIV/AIDS
O uso consistente de preservativos é fundamental para prevenir a transmissão do HIV. Durante o Carnaval, o Ministério da Saúde intensifica campanhas de distribuição de preservativos para reforçar essa medida preventiva.
Sífilis e Gonorreia
Estas infecções bacterianas podem causar complicações graves se não tratadas. O uso de preservativos é essencial para a prevenção.
Hepatites Virais (B e C)
Transmitidas por contato sexual ou sanguíneo, podem levar a doenças hepáticas crônicas. A vacinação está disponível para a hepatite B.
3. Doenças Transmitidas pelo beijo
O beijo pode transmitir diversas doenças, principalmente aquelas causadas por vírus e bactérias presentes na saliva. Algumas das principais incluem:
Mononucleose Infecciosa
Conhecida como a doença do beijo, é causada pelo vírus Epstein-Barr (EBV). Seus sintomas incluem febre, fadiga intensa, dor de garganta e gânglios.
Herpes Labial
Causada pelo vírus Herpes simplex tipo 1 (HSV-1), provoca bolhas dolorosas nos lábios e ao redor da boca. O vírus permanece no organismo para sempre e pode reativar em momentos de baixa imunidade.
Gripe e Resfriado Comum
Os vírus Influenza e Rinovírus podem ser transmitidos pelo beijo, especialmente se uma das pessoas estiver doente ou com secreção nasal.
Caxumba
Doença viral causada pelo vírus da família Paramyxoviridae, provoca inchaço das glândulas salivares, febre e dor ao mastigar.
Sífilis
Embora seja mais conhecida como uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST), a sífilis pode ser transmitida por feridas na boca durante o beijo, se a pessoa infectada estiver na fase secundária da doença.
COVID-19
O coronavírus pode ser transmitido por contato indireto (como superfícies e objetos contaminados) e direto com secreções, incluindo a saliva, tornando o beijo uma via potencial de contágio.
Meningite Bacteriana
Algumas bactérias, como Neisseria meningitidis, podem ser transmitidas pela saliva, embora o contágio seja menos comum dessa forma.
4. Doenças Transmitidas por Mosquitos:
O verão brasileiro, coincidente com o período carnavalesco, é propício à proliferação de mosquitos transmissores de doenças como:
Dengue, Zika e Chikungunya
Transmitidas pelo Aedes aegypti, essas doenças apresentam sintomas que variam de febre e dores articulares a complicações neurológicas. Medidas preventivas incluem o uso de repelentes e eliminação de criadouros do mosquito.
Em janeiro de 2025, durante o lançamento do COE (Centro de Operações de Emergência), no Ministério da Saúde, foi apresentado o Novo Plano de Contingência Nacional, atualizado para enfrentar surtos de dengue, chikungunya e zika. O COE tem como ações antecipar o período sazonal da dengue, ajustar as redes de saúde, prevenir casos e mortes, reforçar medidas em estados e municípios e coordenar respostas a situações críticas.
Febre Amarela
Embora a vacina seja eficaz, é crucial que os foliões verifiquem sua situação vacinal antes de viajar para áreas de risco, seguindo a orientação do Ministério da Saúde. São Paulo, que concentra a maioria dos casos, já recebeu doses extras da vacina. Foram enviadas 2 milhões de doses em janeiro e outras 600 mil doses em fevereiro.
O uso de repelentes também é recomendado como medida adicional de proteção.
5. Doenças transmitidas por alimentos e água:
A ingestão de alimentos ou água contaminados pode resultar em doenças gastrointestinais, como:
Salmonelose e Hepatite A
Estas infecções podem ocorrer devido ao consumo de alimentos mal conservados ou água não tratada. É aconselhável optar por alimentos de procedência confiável e garantir a adequada higienização das mãos.
Medidas preventivas gerais
Para minimizar os riscos à saúde durante e após o Carnaval, recomenda-se:
- Higiene Pessoal: Lavar as mãos regularmente com água e sabão ou utilizar álcool em gel, especialmente antes das refeições.
- Vacinação: Manter o calendário vacinal atualizado é essencial para a prevenção de diversas doenças.
- Hidratação e Alimentação: Consumir água potável regularmente e optar por refeições leves e balanceadas ajudam a manter o bem-estar durante as festividades.
- Uso de Preservativos: Fundamental para a prevenção de ISTs, o preservativo deve ser utilizado em todas as relações sexuais.
- Proteção contra Mosquitos: Aplicar repelentes, usar roupas que cubram a maior parte do corpo e evitar locais com alta infestação de mosquitos são medidas eficazes.
Marielly reforça que embora o Carnaval seja um período de celebração, é crucial que os foliões tivessem adotado comportamentos responsáveis e preventivos para garantir a saúde e a segurança de todos.
A conscientização e a adoção de medidas preventivas são fundamentais para evitar a disseminação de doenças após as festividades.