Responsabilidade que gera confiança
Marcas sólidas não vendem promessas. Elas constroem autenticidade ao agir com transparência e propósito
André Fonseca
16/10/2025
O marketing sempre foi visto como uma área em que atua para impulsionar as vendas, pensando sempre em promover novas campanhas de produtos ou serviços, escolher os melhores canais de comunicação e investir em ações que consigam captar a atenção dos clientes.
Porém, nos dias de hoje, a comunicação com o cliente é realizada em canais mais complexos. As redes sociais trouxeram uma forma diferente de interação, construindo conversas diretas e contínuas com cada cliente. Por isso, não basta oferecer respostas padronizadas e robotizadas. É necessário ser coerente, responsável e, consequentemente, autêntico.
Isso começa desde a escolha dos compromissos que a empresa assume com a definição da missão, visão e valores. Quando uma marca declara algo em sua missão, mas age de modo oposto em seu dia-a-dia, a sua credibilidade se torna mais frágil. Por outro lado, ao tomar decisões com responsabilidade e coerência, a marca ganha força e solidez..
É desta forma que surge a autenticidade, algo fundamental para construir marcas sólidas e relevantes. A autenticidade vai muito além de passar uma proximidade em campanhas ou adotar uma causa que está em alta na sociedade. Porque o elemento principal da narrativa sempre deve ser a consistência. É necessário alinhar o discurso e a prática, de modo que os valores da empresa estejam em sintonia com as decisões do dia-a-dia.
Os consumidores estão cada vez mais atentos e críticos: comparam informações, observam incoerências e avaliam se o discurso corresponde à prática. Em um mundo conectado, é fácil pesquisar na internet por mais informações que ajudam a criar uma visão completa além da narrativa oficial da própria empresa. Por isso, a menor contradição se torna visível com facilidade. É neste ponto em que a autenticidade entra como uma condição essencial para preservar a confiança.
Se uma empresa se posiciona como sustentável e preocupada com o meio ambiente, mas utiliza matérias-primas extraídas de forma ilegal, a incoerência se destaca e o discurso se torna insustentável. Este desalinhamento prejudica a reputação e a imagem da empresa, que são construídas ao longo de anos com muito esforço, e podem ser destruídas rapidamente, dificultando a recuperação da confiança.
Neste ponto, entra também em discussão a responsabilidade das empresas com a sociedade e o meio ambiente.
Ainda existem muitas empresas que enxergam a responsabilidade como uma mera obrigação ou como algo que aumenta custos e reduz margens de lucro. Essa visão limitada e ultrapassada impede que percebam a responsabilidade como um diferencial competitivo. Quando bem aplicada, ela se transforma em uma ferramenta que impulsiona a geração de valor e fortalece o propósito da marca.
Em um mundo conectado, clientes e parceiros avaliam constantemente a relação da empresa com a sociedade e com as comunidades vizinhas, assim como os impactos ambientais. Todos estes elementos ajudam a construir um valor agregado que vai além do produto comercializado em si.
Por isso, além dos benefícios tangíveis, como a qualidade de um produto ou a economia que ele proporciona, uma marca responsável oferece também benefícios intangíveis, porém fundamentais, como a segurança e a confiança. Neste sentido, a responsabilidade se torna uma parte central da proposta de valor. E o marketing passa a comunicar os ganhos reais de forma clara e honesta, sem a preocupação de inventar narrativas.
Existem vários benefícios ao atrelar a autenticidade a uma marca. O primeiro é a diferenciação competitiva, que ajuda a marca a se posicionar, especialmente em mercados mais saturados. Outro efeito direto é a fidelização: consumidores não apenas retornam, mas também recomendam e propagam a sua mensagem de forma espontânea, compartilhando experiências genuinamente positivas.
Além disso, marcas autênticas são mais resilientes em crises, pois contam com a confiança construída ao longo do tempo, evitando rupturas em eventuais falhas. E, por fim, há o impacto financeiro e a sustentabilidade do negócio no longo prazo. A autenticidade, portanto, não é apenas uma questão de reputação, mas sim uma estratégia que assegura o futuro da empresa.
Um grande exemplo que temos hoje em dia é a Patagonia, uma empresa reconhecida em todo o mundo pela forma que integra a sustentabilidade em sua estratégia de negócios. Desde a sua fundação, a fabricante de equipamentos e roupas para atividades ao ar livre produz peças de vestuário com maior durabilidade. Além disso, em diversas campanhas, desafia o consumismo e promove o reaproveitamento de seus produtos.
Deste modo, a Patagonia se posiciona no mercado com uma marca que adota um modelo de marketing orientado por seus valores, em vez de apenas promover seus produtos. Sua autenticidade e responsabilidade atraem consumidores que compartilham os princípios da empresa, criando um forte senso de comunidade e lealdade entre seus clientes através de uma narrativa sólida e engajamento genuíno.
Em resumo, a responsabilidade e o marketing precisam ser vistos de forma complementar. É fundamental integrar práticas responsáveis à essência da marca e, a partir daí, construir narrativas transparentes que reforcem esse posicionamento. Deste modo, a autenticidade já se torna parte natural da experiência, gerando valor duradouro para todas as partes envolvidas, fortalecendo a confiança e conquistando um espaço legítimo na vida dos consumidores. Quando responsabilidade e marketing caminham juntos, a autenticidade deixa de ser promessa e se transforma em experiência concreta.

André Fonseca é Gerente de Performance & Growth da Oleak. Formado em Administração na Fundação Getúlio Vargas, atua desde 2020 gerenciando os times de Marketing e de Business Intelligence da Oleak.