Desde o ano de 2020, estamos vivendo um cenário pandêmico, ocasionado pela Covid-19. Há dois anos, estamos imersos em um mundo cheio de incertezas, notícias sobre incidência de casos pelo mundo, surgimento de variantes e, infelizmente, muitas mortes como desfecho. Diante de todo esse contexto e seus desdobramentos, pensar sobre a existência de um medicamento que fosse capaz de tratar pacientes com Covid-19 parecia algo muito complexo.
No entanto, assim como a propagação do vírus e todas as mudanças que ele impôs aconteceram de forma rápida, após dois anos, a possibilidade de um medicamento se mostra algo cada vez mais próximo. Para saber das novidades no tratamento da Covid-19, siga a leitura deste artigo que preparamos.
Notícia boa para a saúde pública
Começamos com a boa notícia para a saúde pública que chegou ao Brasil, em primeiro de abril de 2022: a aprovação e incorporação do primeiro medicamento para o tratamento de Covid-19, no Sistema Único de Saúde (SUS), o Baricitinibe, um comprimido já em uso para tratar a artrite reumatoide.
Para que a incorporação do medicamento para o tratamento de Covid-19 no SUS fosse amplamente conhecido e avaliado, a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec) – responsável pela decisão e incorporação desse medicamento no SUS – submeteu o processo à consulta pública no período de 15 a 24 de março de 2022. Nela, houve contribuição de especialistas e da sociedade em geral e, assim, foi concluída a decisão em reunião extraordinária no dia 30 de março de 2022.
O Baricitinibe, fabricado pela empresa Eli Lilly do Brasil Ltda, é o primeiro medicamento que será disponibilizado para tratamento de Covid-19. E, para que o seu uso seja direcionado de forma correta, foram definidos critérios clínicos como:
- O paciente deve ser adulto hospitalizado com Covid-19;
- Estar sob oxigenoterapia, seja por máscara inalatória ou por cateter nasal ou, ainda, sob necessidade de alto fluxo de oxigênio ou de ventilação não invasiva.
Como dissemos anteriormente, este medicamento já era aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) com foco terapêutico em casos de doenças autoimunes, como a artrite reumatóide ativa, do tipo moderada à grave, e a dermatite atópica, do tipo grave.
Para que possamos esclarecer melhor como o medicamento Baricitinibe deve auxiliar o paciente com Covid-19, separamos para você alguns tópicos a seguir. Veja só:
Como Baricitinibe pode auxiliar o paciente com Covid-19?
O medicamento é um imunomodulador, ou seja, é um químico que atua no sistema imunológico auxiliando no processo de recuperação de quadros inflamatórios.
Dessa maneira, Baricitinibe é uma medicação que atua na redução da ação da interleucina-6 (IL-6), uma substância ligada ao desenvolvimento de reações inflamatórias geradas por diversas doenças e que, em casos mais graves, se apresenta em níveis elevados.
No caso de pacientes com Covid-19, trata-se de uma estratégia para o tratamento de pacientes que tiveram comprometimento pulmonar devido a resposta hiperinflamátoria desencadeada pela tempestade de citocinas, característica na infecção causada pelo vírus SARS-COV2.
O Baricitinibe será utilizado em que tipo de casos de Covid-19?
De acordo com o critério estabelecido pelos órgãos de saúde responsáveis, o medicamento deverá ser utilizado em casos de agravamento clínico e em casos graves de Covid-19. Assim, a medicação será utilizada somente em pacientes internados.
Como será o tratamento com Baricitinibe?
A administração do medicamento será por via oral, sendo um comprimido de 04 mg uma vez ao dia, durante 14 dias, ou até a alta hospitalar, o que ocorrer primeiro.
Existem riscos no uso de Baricitinibe?
O medicamento é contraindicado em pacientes com hipersensibilidade conhecida ao produto ou a qualquer um dos componentes da fórmula e em mulheres grávidas.
A profilaxia para tromboembolismo venoso é recomendada a menos que contraindicada.
Importante destacar que: há um conhecimento limitado no momento sobre todas as reações adversas apresentadas em pacientes com Covid-19, porém as conhecidas são listadas abaixo por ordem de apresentação durante o uso do medicamento.
Eventos adversos associadas ao uso do medicamento
- Muito comum:
Alanina aminotransferase ≥ 03 x acima do limite superior normal;
Aspartato aminotransferase ≥ 03 x acima do limite superior normal.
- Comum:
Infecções do trato urinário; embolia pulmonar; trombose venosa profunda; neutropenia < 1.000 células/mm3 ; Trombocitose > 600.000 células/mm3.
- Incomum:
Náusea; dor abdominal; infecções do trato respiratório superior; herpes simplex; herpes zoster; dor de cabeça.
Medicamento e vacina: combo contra a Covid-19
Bem, agora que vimos um pouco sobre como deve ser a administração de Baricitinibe e quais os possíveis efeitos, vamos entender melhor como ele pode ser uma aliado contra a Covid-19. Médicos especialistas compreendem que este medicamento é uma escolha perfeita para tratar a doença, pois permite controlar a fase viral, evitando agravos na fase inflamatória da Covid-19, na qual, geralmente, acontece o momento em que a doença “vira uma chave” para o agravamento do quadro.
Somando-se à vacina para Covid-19, possuir um tratamento em mãos que seja específico para doença tem significativa importância uma vez que, mesmo diante de uma boa adesão à vacinação, os números de casos de Covid-19 e de óbitos se mantém presentes. A situação nos lembra de que a vacina não deve ser considerada como solução única e isolada contra o avanço do vírus.
Há algo que colabora ainda mais para o uso do medicamento: o custo envolvido. Segundo a Conitec, o relatório de uso de Baricitinibe aponta para um custo base de aquisição de R$27,22, por comprimido, e um custo total de tratamento, por 14 dias, de R$381,08, por paciente com Covid-19. Ou seja, um custo acessível que reflete em maior chance de cura do paciente e em um menor tempo de permanência no hospital.
No entanto, é preciso ficar claro que o Baricitinibe só poderá ser utilizado em esquema de internação hospitalar e mediante critérios clínicos estabelecidos. Desse modo, não existirá a possibilidade de compra do medicamento em farmácias, evitando seu uso indiscriminado.
Mais uma luz pelo caminho
E temos mais novidades no combate à Covid-19. A Anvisa nos surpreendeu com mais um medicamento aprovado, em 30 de março de 2022: o Paxlovid (Nirmatrelvir + Ritonavir), fabricado pela Pfizer. Vale destacar que, no caso deste medicamento, a permissão de uso está em caráter emergencial, com autorização temporária e em caráter experimental.
Paxlovid é destinado ao tratamento de Covid-19 e o mecanismo de ação do medicamento, conhecido como inibidor de protease, está na sua capacidade de bloquear uma enzima que o vírus precisa para se multiplicar. Quando tomado junto com uma dose baixa de outro comprimido antiviral, chamado Ritonavir, ele permanece no corpo por mais tempo. Estudos indicam que o fármaco reduz em 89% o risco de hospitalização ou óbito em adultos vulneráveis.
Assim como para o Baricitinibe, o uso do Paxlovid também exige critérios clínicos. Neste caso, ele foi estabelecido para pacientes adultos que não requerem oxigênio e/ou que apresentam risco aumentado de progressão da gravidade do Covid-19.
O medicamento já possui aprovação em caráter emergencial para uso em vários países como EUA (pelo FDA), na Europa (pela EMA), além de Canadá, China, Austrália, Japão, Reino Unido e México.
O pedido emergencial foi apresentado na Anvisa pela empresa Wyeth Indústria Farmacêutica Ltda./Pfizer, no dia 15 de fevereiro de 2002. A diretoria da Anvisa esclareceu que, no protocolo de autorização de uso emergencial do Paxlovid, foram avaliadas todas as evidências científicas disponíveis.
Segundo o CEO da Pfizer, Albert Bourla, o Paxlovid tem “o potencial de salvar a vida dos pacientes, reduzir a gravidade das infecções por Covid-19 e eliminar até nove em cada 10 hospitalizações”.
Paxlovid só poderá ser comprado com prescrição médica, porém, não poderá ser usado por mais de cinco dias. Importante destacar que o medicamento não deve ser utilizado para início de tratamento em pacientes que necessitam de hospitalização, devido a manifestações graves ou críticas da Covid-19.
Também não está autorizado para profilaxia pré ou pós-exposição para prevenção de infecção pelo Novo Coronavírus.
Além disso, como recomendações importantes destacamos:
- Não há dados do uso do Paxlovid em mulheres grávidas, recomenda-se que seja evitada a gravidez durante o tratamento com o referido medicamento e, como medida preventiva, até sete dias após o término do tratamento.
- Não é recomendado para pacientes com insuficiência renal grave, uma vez que a dose para essa população ainda não foi estabelecida.
Por fim, esperamos que essas novidades em medicamentos para tratamento da Covid-19 possam significar vidas salvas e novos e melhores tempos para a saúde pública.
Referências:
Caso você queira acompanhar as literaturas técnicas sobre o assunto, deixamos aqui alguns links:
Parecer Técnico do Paxlovid – Plano de Gerenciamento de Riscos – Anvisa
Até o próximo!