A febre Oropouche é uma doença viral transmitida principalmente por mosquitos, que tem ganhado destaque no cenário de saúde pública no Brasil, especialmente com o aumento de casos em 2024.
Neste artigo, Marielly Herrera, a enfermeira especializada em controle de infecções hospitalares da Oleak, aborda os aspectos cruciais dessa enfermidade, incluindo sua etiologia, sinais e sintomas, métodos de diagnóstico, tratamento, prevenção e dados recentes sobre sua incidência no país.
Dados recentes no Brasil
Em 2024, o Brasil enfrentou um aumento significativo nos casos de febre Oropouche, com vários surtos reportados em diferentes estados, especialmente nas regiões Norte e Nordeste.
Neste ano, o país registrou, até o fim de julho, 7.286 casos em 21 estados, quase 80% nas áreas endêmicas. Em 2023, porém, houve menos de 900 diagnósticos ao longo de todo o ano. Já o Estado de São Paulo teve o registro de 5 casos.
De acordo com o alerta da Opas – Organização Panamericana de Saúde, o Brasil representa a vasta maioria (cerca de 90%) dos 8.078 casos identificados nas Américas em 2024. Há registros em apenas outros quatro países: Bolívia (356); Peru (290); Colômbia e Cuba (ambos com 74 cada).
Fonte: Ministério da Saúde – *(Dados até 28/07/2024/ Atualização no site:02/08/2024) https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/o/oropouche/painel-epidemiologico
No final de julho, o Brasil confirmou dois óbitos pela doença, os primeiros no mundo. As mortes foram de duas mulheres na Bahia, de 21 e 24 anos, que não eram gestantes e não tinham comorbidades. A primeira morava na cidade de Valença e morreu em 27 de março. Já a segunda residia em Camamu, mas faleceu no dia 10 de maio em Itabuna.
O Ministério da Saúde confirmou o primeiro caso de óbito fetal causado por transmissão vertical de febre Oropouche no mundo, ou seja, quando o vírus é transmitido da gestante para o feto. O caso foi registrado em Pernambuco. A gestante tem 28 anos de idade e estava na 30ª semana de gestação.
As mulheres gestantes estão no topo da preocupação das autoridades sanitárias com o aumento de notificações de febre oropouche em Minas Gerais e em todo o Brasil. O Ministério da Saúde anunciou que investiga oito casos de transmissão vertical da doença, isto é, da mãe para o recém-nascido durante o parto. Eles ocorreram em Pernambuco, na Bahia e no Acre: metade dos bebês nasceu com anomalias, como a microcefalia e a outra metade morreu. Em Minas Gerais, conforme a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), duas gestantes passaram por investigação na região do Vale do Aço, onde se concentram a maioria das notificações no Estado.
Estudos indicam que as mudanças climáticas e o desmatamento podem estar contribuindo para a expansão dos habitats dos mosquitos vetores, facilitando a disseminação do vírus.
O que é a Febre Oropouche?
A febre Oropouche é uma arbovirose, ou seja, é uma doença causada por um arbovírus (vírus transmitido por artrópodes) do gênero Orthobunyavirus, da família Peribunyaviridae. Foi identificado pela primeira vez em Trinidad em 1955. No Brasil, a febre Oropouche foi documentada pela primeira vez em 1960, e desde então, surtos esporádicos têm sido registrados, principalmente na região amazônica.
Transmissão
A principal forma de transmissão do vírus Oropouche é através da picada de mosquitos do gênero Culicoides, especialmente o Culicoides paraensis. Além disso, outros mosquitos como Aedes aegypti, conhecidos por transmitirem dengue e zika, também podem ser vetores do vírus. A transmissão de pessoa para pessoa não é comum, embora a transmissão vertical (de mãe para filho) seja uma possibilidade investigada.
Sinais e Sintomas
Os sintomas da febre Oropouche geralmente aparecem de 4 a 8 dias após a picada do mosquito infectado. As manifestações clínicas incluem:
Febre alta: O sintoma mais comum, geralmente acima de 38,5°C.
Dor de cabeça intensa: Muitas vezes descrita como dor retro orbital.
Mialgia e artralgia: Dores musculares e articulares severas.
Exantema: Erupção cutânea que pode ser difusa e coçar.
Fotofobia: Sensibilidade à luz.
Náusea e vômitos: Sintomas gastrointestinais que podem acompanhar a febre.
Embora a febre Oropouche seja autolimitada, com sintomas geralmente durando de 3 a 7 dias, complicações como encefalite podem ocorrer, especialmente em indivíduos com sistemas imunológicos comprometidos.
“Entre os sintomas, estão febre súbita, dor de cabeça intensa, dores nas articulações e nos músculos e, em alguns casos, erupção cutânea, fotofobia, diplopia (visão dupla), náuseas, vômitos e diarreia. Os sintomas podem durar de cinco a sete dias. A maioria das pessoas afetadas se recupera sem sequelas. Uma pequena proporção pode necessitar de várias semanas para recuperação completa. Em raras ocasiões, podem ocorrer casos graves com meningite asséptica”, diz a Opas para O Globo.
Diagnóstico
O diagnóstico da febre Oropouche é desafiador devido à semelhança dos sintomas com outras doenças virais, como dengue, zika e chikungunya. Para confirmar a infecção, testes laboratoriais são essenciais, incluindo:
RT-PCR: Detecção do RNA viral, considerado o padrão-ouro para diagnóstico.
Sorologia: Identificação de anticorpos IgM e IgG específicos para o vírus Oropouche.
Além disso, a história clínica e epidemiológica do paciente, incluindo a ocorrência de surtos na área de residência, são fundamentais para orientar o diagnóstico.
Tratamento
Atualmente, não há tratamento específico antiviral para a febre Oropouche. O manejo é principalmente sintomático, focando no alívio dos sintomas:
Antipiréticos: Para controle da febre (paracetamol é preferível).
Analgésicos e anti-inflamatórios: Para dor e inflamação (evitar aspirina devido ao risco de complicações hemorrágicas).
Hidratação: Manutenção de fluidos adequados é crucial, especialmente em casos com vômitos severos.
Os pacientes são aconselhados a descansar e evitar a exposição a novos mosquitos para prevenir a propagação do vírus.
Prevenção
A prevenção da febre Oropouche envolve medidas individuais e coletivas para controlar a população de mosquitos e evitar picadas. Algumas estratégias incluem:
Uso de repelentes: Produtos que contenham DEET, icaridina ou óleo de eucalipto-limão são eficazes.
Roupas protetoras: Vestir roupas de manga longa e calças.
Mosquiteiros e telas: Uso de redes de proteção em áreas endêmicas.
Controle de vetores: Eliminação de criadouros de mosquitos, como água parada em pneus, vasos de plantas e outros recipientes.
A febre Oropouche representa um desafio emergente para a saúde pública no Brasil. A especialista reforça que o momento é de conscientização sobre a doença, a implementação de medidas preventivas eficazes e a realização de pesquisas contínuas são fundamentais para controlar sua disseminação e mitigar seu impacto na população. O aumento de casos em 2024 serve como um alerta para a necessidade de ações coordenadas entre autoridades de saúde, comunidades e profissionais da área para enfrentar essa ameaça de maneira eficaz.